Queimadas, desmontes, indígenas

Por que o mundo duvida da política ambiental do Brasil?

Por Carlos Madeiro

Jair Bolsonaro (sem partido) pode ter amenizado o tom em seu discurso na Cúpula de Líderes Sobre o Clima promovida por Joe Biden.

Pode também ter feito promessas de mais fiscalização, mas as falas e os atos nos dois anos e meio de gestão falam mais alto sobre seu governo.

Isac Nóbrega / PR

É comum que as falas presidenciais tenham um peso muito grande. Mas, no caso brasileiro, por mais que ele tenha tentado trazer coisas novas, estava distante do nível de ambição de outros países. E o mais sério: a fala veio acompanhada por ceticismo enorme de diplomatas e da imprensa.

Maurício Voivodic,
diretor executivo do WWF-Brasil
REUTERS/Tom Brenner

Imagem suja

Práticas do governo como desmonte de políticas públicas e agências, cortes de verbas e aparelhamento de cargos deram o respaldo para que o desmatamento só crescesse.

Um dos maiores prejuízos produzidos é a imagem negativa do Brasil no exterior e os efeitos disso para a economia do país.

Maurício Monteiro/Repórter Brasil

[O governo federal] vem com o discurso de que isso tem sido obstáculo para o setor privado, para a economia. Mas hoje sabemos que se trata de uma agenda orientada a interesses de grileiros, de garimpeiros, de madeireiros, que têm trânsito livre no Planalto. É para atender a esses interesses que temos essa agenda antiambientalista."

Maurício Voivodic,
diretor executivo do WWF-Brasil
Ricardo Moraes/Reuters
  • O Brasil é destaque negativo pelos recordes de queimadas e desmatamentos, retrocessos na proteção a indígenas e desmonte do aparato de fiscalização ambiental
  • Em 2020, foram 8.426 quilômetros quadrados destruídos -- 70,2% a mais do que em 2018
  • No que se refere às queimadas, o mesmo ano registrou recorde de incêndios no Pantanal
Reprodução
  • As multas ambientais caíram 20% no país no período
  • Estudo da UFRJ mostrou que "boiada" passou com 57 atos legislativos que enfraqueceram as regras de preservação ambiental
  • Quase metade desses atos (49%) aconteceram depois da pandemia de covid-19, com pico em setembro de 2020
Ueslei Marcelino

O principal efeito prático disso é que os desmatadores se sentem encorajados.

Paulo Barni,
professor e pesquisador do Departamento de Engenharia Florestal da UERR (Universidade Estadual de Roraima)
PABLO WASHINGTON / Estadão Conteúdo

Logo depois do discurso de Bolsonaro — que nem sequer foi acompanhado pelo presidente norte-americano —, o ministro Ricardo Salles disse que o governo federal vai dobrar as verbas para o Meio Ambiente.

Ontem, o presidente oficializou um corte de recursos para a área relacionada a mudanças do clima, controle de incêndios florestais e fomento a projetos de conservação do meio ambiente.

Lucas Seixas/UOL

É um sinal da diplomacia que o Brasil perde relevância com relação a discussões ambientais. O governo Bolsonaro precisa mostrar o seu empenho através de ações, por discurso não está colando mais. A visão dos atores internacionais já é de desconfiança.

Thais Bannwart,
porta-voz de Políticas Públicas do Greenpeace no Brasil
Marina Garcia/ UOL

Todo mundo sabe que política ambiental não é prioridade do governo atual. E quando o governo não tem essa prioridade, então ela não tem valor. "Isso prejudica o futuro, o clima, a produção e a economia. Ou seja, prejudica todo mundo.

Almir Narayamoga,
cacique da etnia Suruí (RO)
Daniel Marenco/Folhapress
Publicado em 25 de abril de 2021.
Edição: Clarice Cardoso