UOL Confere

Voto impresso e por correio: os argumentos de Trump e Bolsonaro sobre fraude eleitoral

Por Carolina Marins

Os últimos dias de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos foram marcados por acusações de fraude nas eleições do país.

No Brasil, Jair Bolsonaro segue a mesma estratégia desde o dia em que foi eleito presidente, colocando em suspeição o próprio pleito que o elegeu. A seguir, os argumentos de cada um checados pelo UOL.

Alan Santos - 24.set.18/PR

Correio, contagem, fraude

Os argumentos de Trump para questionar a eleição têm dois principais pilares: votos por correio e fraude na apuração.

Ele começou atacando os votos por correio, mudou para as contagens durante a apuração e, por fim, apelou para a afirmação de "fraude generalizada".

Reuters

Votos por correio nos EUA

Trump já construía o seu argumento de fraude desde antes da eleição do dia 3 de novembro. Com Biden à frente nas pesquisas, o republicano foi aos poucos contestando a segurança dos votos por correio.
Saul Loeb/AFP

O voto universal por correio será catastrófico e fará dos EUA uma piada no mundo.

Donald Trump em 15 de agosto de 2020
Leah Millis/Reuters

Trump já votou por correio

O voto por correio, porém, existe há anos. O próprio Trump já votou assim nas eleições de 2016 e até nas primárias de 2020. No entanto, devido à pandemia, mais estados passaram a aceitá-lo e em maior quantidade.

Quando a tendência das pesquisas passou a indicar que a situação traria vantagem a Biden, Trump reagiu.

Damon Winter/The New York Times

Contagem atrasada

Além disso, por questões logísticas, esses votos chegaram apenas depois do dia 3 aos estados, o que atrasou a apuração. Trump argumentava que só deviam ser contados os votos feitos presencialmente naquele dia 3.
Getty Images
Conforme os votos foram chegando, crescia a diferença entre os dois candidatos, favorecendo Biden. Trump, então, passou a questionar as apurações feitas pelos estados.
Getty Images

Na noite da eleição [3 de novembro], estávamos ganhando e milagrosamente nossos números desapareceram. De repente, os democratas encontram votos. Incrível como o voto por correio só favorece um lado.

Donald Trump em 5 de novembro
Win McNamee/Getty Images

Recontagem

Trump pediu a recontagem de votos em alguns estados, como Geórgia, Wisconsin e Michigan. Na Geórgia, antigo reduto republicano, foram feitas três contagens, uma delas manual. Nenhuma delas provou a tese de que houve manipulação.
Brandon Bell/Reuters

Judicalização

A equipe de Trump abriu mais de 60 processos judiciais contra as apurações, incluindo na Suprema Corte.

Em nenhum deles obteve sucesso.

Will Dunham

"Votos ilegais"

Ainda assim, o presidente continuou com a retórica de fraude.

Ele passou a basear seu argumento nos "votos legais", em referência aos que chegaram após o fechamento das urnas.

Getty Images/iStockphoto

Se você contar os votos legais, eu ganho facilmente. Se você contar os votos ilegais, eles podem tentar nos roubar a eleição.

Donald Trump em 5 de novembro
Divulgação

Incitação de apoiadores

Foi com esse discurso de fraude e votos ilegais que Trump inflou seus apoiadores a marcharem ao Congresso a fim de parar a oficialização de Joe Biden. O resultado foi um episódio de violência com invasão ao Capitólio, evacuação de parlamentares e cinco mortos.
SAUL LOEB/AFP

Jair Bolsonaro

No Brasil, Bolsonaro utiliza a mesma fórmula de seu aliado com outro argumento: como aqui não há votos por correio, o presidente brasileiro foca seu discurso na urna eletrônica.
TOM BRENNER

Voto impresso

Desde a eleição de 2018 que o elegeu, Bolsonaro diz haver fraude nas urnas eletrônicas e advoga pelo voto impresso. Já antes do pleito ele dizia a apoiadores que só perderia "por fraude".
Dário Oliveira/Folhapress

A grande preocupação realmente não é perder no voto, é perder na fraude. Então, essa possibilidade de fraude no segundo turno, talvez até no primeiro, é concreta.

Jair Bolsonaro durante live em setembro de 2018
Estadão Conteúdo

Sem provas

Depois que ganhou o pleito, ele continuou endossando a tese de fraude. O presidente prometeu apresentar provas de que havia ganhado já no primeiro turno. Porém, nunca o fez.
Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Eu acredito que, pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tenha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude. E nós temos não apenas palavra, nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar.

Jair Bolsonaro em 9 de março de 2020
EDU ANDRADE/FATOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Estratégia para o futuro

Segundo especialistas, ao contestar a própria eleição que o elegeu, Bolsonaro está na verdade pensando em 2022.

Ao questionar agora a lisura do sistema eleitoral, ele estaria incitando seus apoiadores a negar uma derrota no ano que vem, assim como fez Trump.

Adriano Machado/Reuters

Urnas inauditáveis

Seu argumento contra a urna eletrônica é de que não seria possível auditá-la, sendo necessário o voto impresso para comparar o resultado da urna com os em papel.
Marlon Costa/Folhapress
Porém, como já verificou o UOL, a afirmação é falsa. As urnas são auditadas durante a votação e esse registro pode ser checado depois.
Theo Marques/FramePhoto/FOLHAPRESS
As falsas afirmações de fraude voltaram com força nas eleições municipais de 2020. Bolsonaristas, inclusive, utilizaram o atraso nas apurações para criar teorias da conspiração, impulsionadas pelo presidente.
Willian Moreira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Bolsonaro endossou a afirmação de Donald Trump de que houve fraude na eleição americana. Após a invasão ao Capítólio, o presidente sugeriu que pode ocorrer algo pior no Brasil ano que vem, sem deixar claro se estava falando de fraude ou de violência.
AFP

Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar voto, nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos.

Jair Bolsonaro em 7 de janeiro de 2021.
Alexandre Neto/Photopress/Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de janeiro de 2021.
Edição: Clarice Cardoso