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Por que mortes por covid-19 e vacinados são contados de maneiras diferentes?

Por Carolina Marins

Até ontem, o Brasil registrava mais de 455 mil mortos pela covid-19. Enquanto isso, mais de 21 milhões de pessoas foram vacinadas com as duas doses, ou 10% da população. Mas por que usamos, em um indicador, o número absoluto e, em outro, dividimos pela população?
AFP

Números absolutos x proporcionais

Durante a pandemia, o recomendado é tratar os índices de óbitos como um número absoluto e os de vacinação, como um número relativo -- no caso, à população. E inverter essa lógica traz interpretações erradas.
Alex de Jesus/O Tempo/Estadão Conteúdo

Mortes por milhão

Crítico dessa forma de contagem, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mais de uma vez defendeu que se considerasse o índice de mortes por milhão de habitantes. O próprio Ministério da Saúde já apresentou os dados dessa forma.
Reprodução/Youtube

É só você fazer a conta por milhão de habitantes.

Jair Bolsonaro,
sobre a diferença de mortes entre Brasil e Argentina
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Menos mortes?

Pela lógica presidencial, o Brasil deixaria ser o 2º no ranking mundial de óbitos (atrás apenas dos EUA) para ser o 11º, segundo o site Worldometer.
Bruno Kelly/Reuters

Ranking de mortes por milhão de habitantes

Arte UOL

A intenção do presidente é dizer que o Brasil está numa posição não tão grave em comparação a outros países, o que é uma interpretação errada e fora de contexto.

Domingos Alves,
Médico e professor da FMUSP em Ribeirão Preto

Onde usar?

O cálculo de mortes por milhão existe, é a chamada taxa de mortalidade. Ela também pode se apresentar como taxa por 100 mil habitantes. Mas esse cálculo é geralmente aplicado a problemas crônicos ou outras condições, como acidentes e violência.

Não é adequado para análise de epidemias, principalmente para comparar países que vivem a doença de maneiras e em momentos diferentes.

Mesmo nessa comparação de mortes por milhão, o Brasil piora cada vez mais. O país já chegou a estar abaixo da 30ª posição, mas, hoje, já saltou para o 11° lugar.
Amanda Perobelli/Reuters

O Brasil está em primeiro lugar em mortes por milhão entre os grandes países, aqueles com mais de 100 milhões de habitantes, por exemplo.

Domingos Alves,
Médico e professor da FMUSP em Ribeirão Preto
Jose Antonio/Anadolu Agency via Getty Images

E a vacinação?

Já o número de vacinados é calculado de maneira proporcional e considera a cobertura vacinal, não apenas indivíduos imunizados. Na corrida pela vacinação, importa menos o ranking de doses aplicadas e mais o de doses frente ao total da população.
Amanda Perobelli/Reuters

Imunidade é coletiva

Isso porque a imunidade é algo coletivo. Para que uma doença pare de circular, é preciso atingir uma certa porcentagem de pessoas vacinadas em todo o país. No caso da covid-19, especialistas apontam no mínimo 70%.
Mauro Akiin Nassor/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Pronunciamento em 23 de março de 2021

(Lembre-se de ligar o som.)
Pedro Ladeira/Folhapress

5° país que mais vacina?

Utilizando o número absoluto, o governo argumenta que o Brasil é o 5º país que mais vacina no mundo. No entanto, essa realidade é distorcida. O país está na 73ª posição segundo o site Our World in Data.
Lillian Suwanrumpha/AFP

Ranking de países que mais vacinam proporcionalmente

Arte UOL

É muito natural que, no caso da vacinação, se mostre a porcentagem da população vacinada, porque isso vai indicar o quanto aquele país já contribuiu para a cobertura vacinal, ou seja para a proteção da população.

Domingos Alves,
Médico e professor da FMUSP em Ribeirão Preto
Divulgação/Instituto Butantan
Publicado em 28 de Maio de 2021.
Edição: Clarice Cardoso