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O Ocidente tem pouco a oferecer à ditadura de Belarus

Parentes dos 580 manifestantes presos em Belarus conferem lista com os nomes dos detidos em protesto contra presidente Alexander Lukashenko - Viktor Drache/AFP
Parentes dos 580 manifestantes presos em Belarus conferem lista com os nomes dos detidos em protesto contra presidente Alexander Lukashenko Imagem: Viktor Drache/AFP

Anne Applebaum

23/12/2010 02h36

No domingo (19/12), a nação da Belarus passou por eleições presidenciais. À noite, a polícia deu seu veredicto. À meia noite, dezenas de milhares de pessoas haviam sido expulsas da praça central em Minsk, centenas presas e outras centenas severamente espancadas. Jovens mancavam, afastando-se das manifestações com braços quebrados e cabeças sangrando. Possivelmente, seis dos nove candidatos presidenciais estavam presos. Um deles, Uladzimir Neklyayev, apanhou tanto que ficou inconsciente e depois foi arrancado do hospital envolto em cobertores. Enquanto este artigo estava sendo escrito, ele ainda estava desaparecido, trancafiado em uma localização desconhecida.

A polícia também prendeu jornalistas, invadindo escritórios e fechando suas operações. Mais tarde, prenderam artistas em suas casas. Só para garantir, a polícia também fechou sites e redes sociais da Internet –Twitter, Facebook e seus equivalentes bielo-russos- e bloqueou acesso a sites estrangeiros que continham notícias dos eventos em Minsk. Usando as táticas de seus colegas em Moldova, as forças especiais bielo-russas –ainda conhecidas, assustadoramente, por KGB- aparentemente enviaram seus brutamontes para se unirem as manifestações no dia das eleições, quebrarem janelas no parlamento e jogarem pedras, para melhor justificar a repressão violenta.

No final, foi uma demonstração impressionante da fraqueza do regime. De fato, a violência que se desdobrou após a quarta “vitória” presidencial de Alexander Lukashenko só pode se explicada como sinal do fracasso do ditador bielo-russo. Após o fechamento das urnas, Lukashenko alegou ter recebido quase 80% dos votos. Mas políticos tão populares não precisam bater, prender e ameaçar seus opositores, enviar provocadores para uma multidão, nem fechar sites da Web.

E de fato, o verdadeiro apoio a Lukashenko parece estar bem abaixo de 80%. Belsat –um canal de televisão da Polônia que transmite para a Belarus- acredita que o apoio a Lukashenko esteja próximo de 30%, baseado nas pesquisas feitas em vários meses. Outros estimam em 38%, mas qualquer um dos dois números explica por que os relatos de fraude eleitoral foram amplos, por que os observadores não tiveram permissão para acompanhar a contagem, por que a mídia estatal concentrou 90% da sua atenção em Lukashenko e por que a Radio Free Europe começou a colecionar relatos de discrepâncias logo cedo. Também explica por que esquadrões de policiais anti-confronto foram enviados para esperar os manifestantes no centro de Minsk muito antes destes chegarem.

Sob essas circunstâncias, a “vitória” de Lukashenko também significa que –após um longo flerte com o Ocidente liberal e o Oriente autoritário- o ditador bielo-russo agora fez sua escolha. No mês passado, os ministros de relações exteriores da Alemanha e Polônia (sou casada com este) foram a Minsk com uma oferta: em troca de eleições livres, a União Europeia oferecia um grande pacote de ajuda, fronteiras mais abertas e o potencial para melhor relacionamento econômico e político no futuro. Desde então, contudo, Lukashenko consertou seu relacionamento volúvel com o Kremlin e assinou um acordo de petróleo com Moscou, assegurando a manutenção parcialmente intacta do velho modelo econômico do país. Por grande parte da última década, a Belarus importou petróleo barato da Rússia e exportou o petróleo e seus produtos mais caros para outros lugares, mantendo seu orçamento equilibrado e seus políticos ricos. Agora, o acordo é menos favorável, mas ainda é melhor do que qualquer coisa que a Belarus poderia receber no mercado aberto.

E isso, por enquanto, é tudo. Declarações serão emitidas, sanções podem ser impostas. Lukashenko pode ter dificuldades em conseguir um visto para Berlim ou Londres. Mas na verdade, o Ocidente tem poucas cenouras para oferecer a ditadores impopulares –mesmo os que fazem fronteira com a Europa- além do comércio livre e da possibilidade de longo prazo de integração e crescimento econômico. Os ministros de relações exteriores da Europa não podem garantir a riqueza pessoal de Lukashenko. Não podem oferecer contratos de petróleo corruptos. Podem falar de “liberdade” –como fizeram- mas têm que competir com outros que falam sobre o “modelo chinês”, que oferecem formas mais previsíveis de segurança de emprego e que não se incomodam com algumas prisões. Na manhã após a repressão policial sobre a oposição, o presidente russo Dmitri Medvedev declarou que as eleições da Belarus eram um “assunto interno”.

É assim, então, o “declínio do Ocidente” na metade oriental da Europa: Os EUA e a Europa sem dinheiro e sem ideias, não conseguem dar fundos à oposição bielo-russa. A Rússia, cheia de dinheiro de petróleo novamente, concordou em apoiar Lukashenko e patrocinar seu regime. Vamos esperar que custe a eles mais do que esperam.