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Reforma migratória: antes tarde do que nunca

Manifestantes protestam a favor da reforma da imigração em Nova York, nos Estados Unidos - 4.dez.2013 - Kena Betancur/EFE
Manifestantes protestam a favor da reforma da imigração em Nova York, nos Estados Unidos Imagem: 4.dez.2013 - Kena Betancur/EFE

13/01/2014 00h01

Neste ano de 2014, os legisladores americanos tentarão fazer o que deveriam ter feito em 2009: uma reforma migratória que legalize a maioria dos 11 milhões que não têm documentos.

Eu sei: parece a história do lobo feroz que nunca vem. Mas, se lembrarmos corretamente, no final do conto o lobo chega. Espero que o mesmo ocorra com a reforma.

Não deixa de me surpreender o otimismo dos imigrantes sem documentos e particularmente o dos “Sonhadores”. Não importa quantas vezes os políticos digam que não, eles continuam insistindo. Reconheçamos: o que manteve vivo esse movimento são os “Dreamers”, esses jovens valentes --vindos ilegalmente quando crianças para os EUA-- que invadem os escritórios dos congressistas, se fazem prender e não param suas campanhas pela internet. Eles são os verdadeiros heróis dos imigrantes.

Agora, permitam-me voltar a 2009, ano em que se supunha que seria aprovada a reforma migratória. O candidato Barack Obama o havia prometido em campanha um ano antes --"o que posso garantir é que teremos no primeiro ano uma proposta migratória que eu possa apoiar"--, e as duas câmaras do Congresso estavam em poder do Partido Democrata.

Então por que não fizeram nada?

Havia outras crises mais importantes, disseram-me pessoas que trabalhavam para o presidente Obama em 2009. "A realidade é que em seu primeiro ano a economia --que estava em uma recessão e ia para uma depressão-- foi seu principal cuidado", disse-me Rahm Emanuel, que era secretário-geral da Casa Branca na época (e hoje é prefeito de Chicago). Além disso, os EUA lutavam duas guerras, no Iraque e no Afeganistão. Mas certamente o temor de que o sistema econômico desmoronasse dominava tudo.

Obama "herdou uma economia muito pior do que qualquer um previa", disse-me Janet Napolitano, que em 2009 era a secretaria de Segurança Interna. "O fato concreto é que o principal tema quando ele assumiu a presidência tinha que ser a economia."

Hillary Clinton, como candidata presidencial, disse em 2008 que se ganhasse a Casa Branca proporia uma reforma migratória durante seus primeiros cem dias de mandato. Entretanto, seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, disse-me no final de 2013 que Obama, já na Casa Branca, foi dominado pela má situação econômica. "No primeiro ano em que ele esteve no poder", disse o ex-presidente, "precisava primeiro evitar que o país e o mundo mergulhassem em uma grande depressão."

Estamos todos de acordo. A economia era a prioridade em 2009. Mas Obama já sabia disso em 2008. Então por que prometeu algo que não poderia cumprir?

Foi sem dúvida uma oportunidade desperdiçada. Em novembro de 2010 o Partido Republicano retoma o controle da Câmara dos Deputados com a clara intenção de não dar a Obama e a seu partido uma só vitória política. E aí ficou atolada a reforma migratória.

Voltemos agora para 2014. Apesar de Obama ter deportado quase 2 milhões de imigrantes sem documentos desde que assumiu a presidência, o Senado, controlado pelos democratas, aprovou no ano passado uma iniciativa de lei de reforma apoiada pela Casa Branca. Até agora a Câmara dos Deputados não a considerou.

Os próximos meses darão aos legisladores a última oportunidade de atuar sobre esse assunto antes que se realizem as eleições para o Congresso e que a campanha presidencial de 2016 domine todo o panorama político em Washington. Essencialmente, o destino dos sem documentos está nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, que no passado foi firmemente contra a legislação ampla do Senado, mas que recentemente sugeriu, segundo versões jornalísticas, que estaria aberto a revisar as leis de imigração com um enfoque mais fragmentado. Com sorte, veremos uma mudança.

Mas 2009 é o melhor exemplo do que acontece quando se devem fazer as coisas e não se fazem por falta de visão e vontade política. Hoje está muito claro que 2009 era o ano em que a reforma migratória deveria ter sido aprovada.

Oxalá seja um erro reparável e logo possamos dizer: antes tarde que nunca.