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Líder republicano é o culpado pela estagnação na reforma migratória nos EUA

Jorge Ramos

De Washington (nos EUA)

03/06/2014 00h01

Durante meses, tentei fazer uma entrevista com John Boehner, o presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos. E todas as vezes ele me disse não.

Então, peguei um avião, fui para Washington, entrei em uma entrevista coletiva que ele estava dando e o resultado não foi nada agradável. Mas, como jornalista e como imigrante, eu tinha de fazer isso.

--"Por que o senhor está bloqueando a reforma migratória?", perguntei a Boehner na entrevista coletiva.
--"Eu?", respondeu ele, rindo.
--"Sim, o senhor", retruquei. "Poderia levá-la à votação, mas não o fez."

Boehner não gostou da pergunta e me fez cara de maus amigos. Não adiantou. A verdade é que ele é o principal responsável pelo fato de 11 milhões de sem-documentos não serem legalizados. Há quase um ano o Senado aprovou um projeto de lei. Mas, Boehner e os republicanos fizeram o possível para boicotá-lo. Era preciso desmascará-los.

"Não há ninguém mais interessado em resolver esse problema que eu", disse-me. Mas, milhões de latinos não acreditam nele. São puras palavras. Depois, Boehner colocou a culpa no presidente Barack Obama. Disse que não confia nele. Essa é outra desculpa. Os republicanos poderiam aprovar uma lei que entrasse em vigor em 2017, quando Obama deixar o poder, e também não estão dispostos a fazê-lo.

Diante disso, só há uma conclusão: o homem que está detendo a reforma migratória no Congresso se chama John Boehner. Ninguém mais.

Apesar de tudo, a estratégia do Partido Democrata e da Casa Branca é dar mais um pouco de tempo a Boehner e aos republicanos para retificar. Creio que é uma falsa esperança. Mas a pergunta é: até quando?

Charles Schumer, senador democrata por Nova York, me disse que a data limite para que os republicanos façam algo em relação à reforma migratória pode se estender até 31 de julho, uma sexta-feira. Depois disso, não haverá mais tempo para nada.

Os congressistas saem de férias durante todo o mês de agosto. Em setembro, só trabalham dez dias, dois em outubro, sete em novembro e apenas oito dias em dezembro. Nesses períodos tão curtos, é impossível legislar sobre um tema tão complexo.

Por que os republicanos não querem aprovar uma reforma migratória?

Pode ser um cálculo político para ganhar nas eleições de novembro próximo, uma estratégia para atacar Obama ou teimosia e ignorância. Mas, seja o que for, se não aprovarem a legalização dos sem-documentos, vão sofrer as consequências durante anos.

Segundo o Departamento do Censo, em 2060 haverá nos EUA 129 milhões de latinos, 31% da população. Ninguém poderá ser eleito sem os eleitores hispânicos. E o pior que o Partido Republicano pode fazer é brigar com o grupo eleitoral de maior crescimento. Se continuarem assim, vão perder a Casa Branca por várias gerações.

Mas, temo que não vejam isso. Até hoje, só deram mostras de uma impressionante miopia política e de muito pouca compaixão pelos imigrantes.

Por enquanto, não vejo sinal algum de esperança. Por isso, depois do verão a luta dos imigrantes vai mudar. Em vez de buscar que os republicanos aprovem uma reforma migratória, o esforço vai se concentrar em que Obama suspenda a maioria das deportações de imigrantes.

Obama deportou mais de 2 milhões de imigrantes e separou muitas famílias latinas em seis anos. Devem parar os protestos contra Obama até julho? É preciso lhe dar uma trégua? É muito difícil pedir isso a um pai ou a uma mãe em risco de deportação.

Enquanto isso, três coisas ficam claras para mim: uma é que, se não houver uma reforma migratória neste verão, a culpa é dos republicanos e de seu líder, John Boehner. Segunda, os latinos não vão se esquecer disso tão facilmente. E terceira, duvido que Boehner queira me dar uma entrevista tão cedo. Mas pelo menos já sei onde encontrá-lo.