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Brasil não está pronto para a Copa do Mundo

Jorge Ramos

05/06/2014 00h01

O Brasil não está pronto para a Copa do Mundo de futebol. Nem estará. Há coisas pendentes demais. Mas, não se preocupem. A bola vai rolar a partir de 12 de junho, e durante 90 minutos, por algumas vezes, nos esqueceremos de tudo o que está ruim.

Ainda há estádios por terminar, policiais entrando nas favelas para evitar violência -- uma imagem negativa para o mundo-- e protestos dos que creem que os US$ 11 bilhões (R$ 25 bilhões) gastos no futebol seriam melhor utilizados em escolas e hospitais.

Já é tarde demais para queixar-se. A maioria dos times já está treinando no Brasil (eu já comprei meus ingressos para a final).

Coube-me cobrir quatro mundiais como jornalista: EUA, Coreia do Sul/Japão, Alemanha e África do Sul. Sempre houve relatos de que o país sede não está pronto e, afinal, sempre se realiza o torneio e os problemas são superados (ou, no pior dos casos, se improvisam soluções). No Brasil está acontecendo o mesmo.

"O Brasil começou a trabalhar tarde demais", disse Sepp Blatter, presidente da Fifa, o órgão internacional que rege o futebol. "É o país que mais se atrasou desde que estou na Fifa, apesar de ser o único que teve tanto tempo, sete anos, para se preparar." O Brasil deixou tudo para o final. E seu tempo terminou.

"É uma vergonha", disse o ex-jogador Ronaldo em entrevista à Reuters, criticando os atrasos na organização do evento. "Estou envergonhado. Este é meu país e o amo muito. Não deveríamos divulgar esta imagem no exterior."

Mas a presidente Dilma Rousseff não deixou que ele marcasse um gol e respondeu ao atacante: "Tenho certeza de que nosso país apresentará a Copa das Copas.... Estou orgulhosa de nossas conquistas. Não temos nenhuma razão para estar envergonhados e não temos um complexo de inferioridade".

Ao contrário. Se há algo que caracteriza os brasileiros, assim como os texanos, é que gostam de fazer as coisas grandes. De fato, tiveram a audácia de ser anfitriões da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos com apenas dois anos de intervalo. Genial.

Mas a burocracia brasileira é de se arrancar os cabelos e não esteve à altura das circunstâncias. A Copa rapidamente a ultrapassou.

Tenho um exemplo perto de casa. O Consulado do Brasil em Miami foi um verdadeiro desastre para atender as milhares de pessoas que querem ir à Copa e precisam de um visto. Há várias semanas fui solicitar um visto de turista para meu filho, que me acompanha ao Brasil. Cheguei pouco depois das 9 da manhã e tive de esperar mais de três horas para ser atendido por um dos funcionários. O consulado não estava preparado para o mundial.

O atendimento foi péssimo e mal-humorado, o site da internet para solicitar o visto é tão confuso que gera mais perguntas que respostas, cartões de crédito não são aceitos e ninguém atende o telefone no consulado para agilizar o processo. É tão frustrante que vi dois adultos saírem de lá chorando.

É claro que, com um sistema tão ruim, ineficaz e limitado, muitas pessoas têm que voltar várias vezes com documentos, pagamentos e pedidos absurdos de dois burocratas cansados que, com seu pedacinho de poder, fazem concorrência ao "Castelo" de Franz Kafka. Terrível. O consulado do Brasil em Miami deu uma imagem muito injusta de seu país. Oxalá não seja um augúrio. Em vez de nos dar as boas-vindas, sua mensagem parecia ser: não queremos que vão ao Brasil.

Tudo isto, espero, vamos esquecer assim que virmos as primeiras partidas de futebol. Estive em várias ocasiões no Brasil, e é um país extraordinário. Nunca saí de lá decepcionado. Mas, esta é a prova de fogo.

Como os brasileiros medirão o êxito de sua Copa do Mundo? Tenho quase certeza de que não será em reais, mas em gols. Se a seleção do jogo bonito ganhar o campeonato mundial pela sexta vez, tudo terá valido a pena para eles. Até os manifestantes, tenho certeza, deixariam seus protestos no dia da final.

Não, o Brasil não está pronto para o Mundial, mas na verdade não importa. Esquecemo-nos de que a única coisa verdadeiramente importante em uma Copa é o futebol. Nada mais.