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Fim da guerra na Colômbia tem de ser negociado com o inimigo

Jorge Ramos

12/06/2014 00h01

A guerra muitas vezes é uma idiotice. Particularmente quando nenhum dos dois lados pode ganhar militarmente.

É o caso da Colômbia. Nem o exército nem as guerrilhas terroristas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) podem derrotar o inimigo a tiros. Foi assim durante meio século. Mas eles continuam lutando.

É falso e ilusório dizer que a guerra pode ser ganha na Colômbia. A única maneira de conseguir a paz é falando. Não há outra. Embora doa, embora seja preciso negociar com quem matou seu irmão. O fim da guerra sempre tem de ser negociado com o inimigo.

As eleições deste domingo (15) são, em grande medida, um plebiscito sobre a guerra. Mais de 220 mil colombianos morreram nesse conflito bélico, em sua maioria civis, segundo o Centro Nacional de Memória Histórica. O presidente Juan Manuel Santos tenta se reeleger apostando em que as negociações de paz com os líderes das Farc em Cuba podem terminar com êxito.

Oscar Ivan Zuluaga, o candidato do ex-presidente Álvaro Uribe, disse que ordenaria uma "suspensão provisória dos diálogos de Havana" e só os retomaria sob condições estritas.

São, sem dúvida, duas visões muito diferentes de como enfrentar esse conflito. Só cabe aos colombianos escolher seu futuro, mas, ganhe quem ganhar, oxalá escute o recente conselho do presidente norte-americano, Barack Obama, em relação à guerra: "Não faça coisas idiotas".

Obama sofreu enorme pressão para enviar soldados americanos ao conflito na Síria e inclusive à Ucrânia (depois da anexação russa da Crimeia). Mas resistiu. De acordo com o jornal "The New York Times", o presidente usou essa frase "não faça coisas idiotas" em suas reuniões privadas e com seus principais assessores ao definir sua filosofia sobre a guerra.

Obama acredita, com base em sua ideia de diplomacia desmilitarizada, que enviar soldados dos EUA não resolveria a guerra civil na Síria nem poderia defender a soberania da Ucrânia. Está muito claro que Obama não quer cometer os mesmos erros que o ex-presidente George W. Bush, que empreendeu uma guerra no Iraque sob a falsa impressão de que ali havia armas de destruição em massa.

Mais de 188 mil civis e combatentes morreram no Iraque, segundo o site IraqBodyCount.org. Muitas vezes o mais inteligente é não fazer a guerra.

"Alguns de nossos erros mais custosos", disse recentemente Obama em um discurso na escola militar de West Point, "ocorreram por nosso desejo de nos apressarmos em aventuras militares sem ter pensado totalmente nas consequências".

Isso pode se aplicar perfeitamente à Colômbia. A guerra é o normal na Colômbia, e o mais fácil seria continuá-la por mais dez, 15, 50 anos. Todas as crianças e a maioria dos adultos colombianos não tiveram um só dia de paz desde que nasceram. Isso pode mudar.

A paz exige mais coragem e inteligência que a guerra. "Toda guerra termina com uma negociação", disse em uma entrevista o correspondente Sebastian Junger, que passou a metade de sua vida em zonas de conflito. Ele tem razão.

O cientista Albert Einstein se perguntava em uma carta em 1932 o seguinte: "Há uma maneira de liberar os seres humanos da fatalidade da guerra?" Apliquemos hoje a mesma pergunta à Colômbia: há uma maneira de liberar os colombianos da fatalidade da guerra?

A resposta é sim. Claro. Mas a primeira condição é "não fazer coisas idiotas", como sugere Obama. E o idiota seria crer que a paz se consegue com mais guerra.