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Uma mulher na Casa Branca mudaria muitas coisas

Livro da ex-secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, "Hard Choices" (Escolhas Difíceis), é exibido na livraria Barnes & Noble em Fairfax, Virgínia (EUA) - Paul J. Richards/AFP
Livro da ex-secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, "Hard Choices" (Escolhas Difíceis), é exibido na livraria Barnes & Noble em Fairfax, Virgínia (EUA) Imagem: Paul J. Richards/AFP

Jorge Ramos

De Nova York (EUA)

07/08/2014 00h01

Por que falamos com Hillary Clinton? Por que essa obsessão por tudo o que ela faz e diz? Por um simples motivo. Porque em 2016 ela poderá se transformar na primeira presidente mulher dos Estados Unidos. Por isso.

Seu livro "Escolhas Difíceis" se transformou imediatamente em best-seller (embora não com as vendas que se previam por um adiantamento de US$ 13 milhões). Mas nem tudo se mede em dinheiro. O livro sugere o mesmo caminho que seguiram outros candidatos presidenciais de sucesso: primeiro o publicam e depois anunciam a candidatura.

"Não sei ainda se vou me lançar", disse-me. Por outro lado, senti-a muito emocionada porque em breve será avó. Sua filha Chelsea dará à luz neste outono. Chelsea "é o melhor de nós dois", comentou, referindo-se a ela e ao ex-presidente Bill Clinton.

Minha entrevista não teve nada de exclusiva. Cerca de 40 jornalistas a entrevistaram antes de mim como parte de um giro maratônico para promover a venda do livro. No entanto, rapidamente cruzamos a fronteira.

Estávamos no norte, onde um dia existiram as Torres Gêmeas, mas Hillary Clinton estava pensando no sul; nas crianças centro-americanas, nas gangues de Honduras, nos mortos pelo narcotráfico no México e no fim do embargo a Cuba.

O que faria ela com as quase 60 mil crianças centro-americanas que chegaram aos EUA nos últimos nove meses? "Bem, algumas delas devem ser deportadas", disse. Mas isso não significaria uma sentença de morte para muitas delas? "Não creio que se possa dizer isso com absoluta certeza."

A ex-secretária de Estado (2009-13) propõe duas categorias: uma de "crianças refugiadas", às quais se daria asilo e proteção, e outra de "crianças imigrantes", que seriam deportadas, mas depois de receber um tratamento humanitário e generoso. Ela também é a favor de identificar essas crianças refugiadas em Honduras, El Salvador e Guatemala antes que viajem para os EUA e corram o risco de coiotes, violações, sequestros, roubos e até a morte.

Clinton, à diferença de muitos políticos norte-americanos, atreveu-se a dizer em um discurso no México em 2009 que "o tráfico de drogas também é um problema dos EUA".

Por que há tantos assassinatos e violência dos cartéis das drogas no México? "Por causa do mercado das drogas nos EUA", afirmou, "e creio que é importante dizer isto".

Seu marido, Bill Clinton, nunca pôde ir a Cuba como presidente. Quando tentou uma aproximação com Fidel Castro, o governo cubano derrubou dois pequenos aviões do grupo Irmãos ao Resgate. Mas Hillary acredita que já é hora de uma mudança.

O embargo contra Cuba "foi um fracasso", disse, "e beneficiou os Castro porque eles culpam o embargo por tudo". O fim do embargo seria só o primeiro passo. "Gostaria de ver uma normalização das relações", explicou, "e algum dia gostaria de ir a Cuba. Algum dia, sim".

Essa mulher que se define como uma "feminista" --"como alguém que crê em plenos direitos e igualdade entre mulheres e homens"-- é a principal incógnita da política dos EUA e do restante do mundo.

Uma mulher na Casa Branca mudaria muitas coisas. E que ninguém se diga surpreso: Hillary Clinton está nos dando o adiantamento desde já.