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Premiê de Israel é um homem de voz suave e palavras fortes

Jorge Ramos

Em Nova York (EUA)

09/10/2014 00h01

O que mais surpreende no primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é sua voz suave, às vezes inaudível. É preciso aproximar-se para ouvi-lo. Mas isso contrasta com suas fortes palavras e com suas posições políticas muito duras. Ele não cede em um único argumento.

Vinha com pressa. Acabava de chegar de Washington, onde se reuniu com o presidente Barack Obama. Pediu que baixassem a temperatura do ar-condicionado na suíte do Hotel Palace e começou a entrevista.

É verdade que não se dá bem com o presidente Obama? "Somos como um velho casal", disse-me. Eles se reuniram mais de uma dúzia de vezes. "Temos nossas diferenças... mas estamos de acordo em muito mais coisas do que nas que não concordamos."

Sobre o Irã, não há um acordo total. Israel preocupa-se que as atuais negociações internacionais lideradas pelos EUA permitam que o Irã desenvolva algum tipo de capacidade nuclear.

"O Irã prometeu destruir Israel e quer desenvolver bombas atômicas", disse Netanyahu. "Naturalmente, como primeiro-ministro, estou preocupado, porque a história não vai dar uma segunda oportunidade ao povo judeu."

Netanyahu vinha preparado para se defender e depois passar à ofensiva. O presidente palestino, Mahmud Abbas, acusou recentemente Israel na ONU de "crimes de guerra" e "genocídio" pela morte de mais de 2.200 palestinos em Gaza, incluindo civis e crianças.

O senhor tomou isso como um ataque pessoal?

"Isso é absurdo. Israel foi atacado por esses terroristas do Hamas, que dispararam milhares de foguetes contra nossas cidades", disse. "E não só dispararam mísseis contra nossos cidadãos, como se esconderam atrás de seus próprios civis, usando crianças como escudos humanos. Obviamente tínhamos de nos defender."

Insisti. "Estão acusando o senhor de crimes de guerra", disse.

"Os crimes de guerra que se cometeram foram realizados pelo Hamas", respondeu, passando ao contra-ataque.

Netanyahu chegou à entrevista com uma fotografia que mostrava um homem encapuzado, identificado por ele como um terrorista do Hamas prestes a executar um palestino ajoelhado.

"O EI decapita pessoas", disse, referindo-se ao grupo islâmico que controla partes da Síria e do Iraque. "E o Hamas põe uma bala em suas cabeças. Mas para as vítimas e suas famílias, o horror é o mesmo."

Comentei que havia escutado seu discurso na ONU e que ele me pareceu carente de qualquer esperança de paz. Não tivera um só gesto ou palavra para buscar novas negociações com os palestinos, disse a ele.

"Ao contrário", respondeu. "Creio que devemos ter dois Estados: um para o povo judeu e outro para o povo palestino... Devemos ter um reconhecimento mútuo, mas também acordos de segurança para evitar que grupos como o Hamas ou o EI tomem o controle das zonas que evacuamos na Cisjordânia."

Netanyahu ficou pensando por um momento e depois, olhando-me nos olhos, disse: "O senhor pergunta se queremos a paz? Deixe-me lhe dizer algo. Eu fui a guerras. Fui ferido em uma operação para resgatar civis de um avião sequestrado por terroristas. Quase me afoguei no Canal de Suez em um conflito com o Egito. Ninguém quer mais a paz que Israel. Conhecemos o horror da guerra. Sabemos o que se sente ao perder um ser querido. Eu perdi um irmão. Ninguém quer mais a paz que nós, mas uma paz que dure."

Restava tempo para mais uma pergunta. Aproximava-se o Yom Kipur, a comemoração religiosa na qual os judeus se arrependem de seus pecados e pedem perdão. O que ele havia feito de mal que precisasse ser perdoado?, perguntei.

"Preciso de muitos Yom Kipurs para isso", disse o homem de voz suave, apenas esboçando um sorriso.