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Pressão da comunidade latina e 'peso na consciência' de Obama motivaram reforma migratória

A medida implementada por Obama, no entanto, não se aplica aos imigrantes que entraram nos EUA após 1º de janeiro de 2010 - David Mung/EFE
A medida implementada por Obama, no entanto, não se aplica aos imigrantes que entraram nos EUA após 1º de janeiro de 2010 Imagem: David Mung/EFE

27/11/2014 00h01

Muitos imigrantes nos EUA acabam de viver o melhor dia de suas vidas. A decisão executiva do presidente Barack Obama - que protegerá da deportação e dará licenças de trabalho para mais de 4 milhões de imigrantes - não foi tudo o que esperávamos, mas é motivo de comemoração. Sim, pudemos.

Esta é uma clara vitória da comunidade latina. Não é algo que nos deram: é algo que lhes arrancamos. Estamos passando de grandes números - somos mais de 55 milhões - a uma pequena cota de poder. Já era hora. Esta é a medida migratória mais importante em quase 50 anos, desde a mudança da lei de imigração em 1965. A medida do presidente Obama afeta inclusive mais pessoas que a anistia de 1986, que legalizou 3 milhões.

Ninguém a queria. Mas foi conquistada.

Não podemos esquecer que os republicanos e seu líder, John Boehner, bloquearam este ano a reforma migratória na Câmara dos Deputados. Negaram-se a votar o plano do Senado e a propor algo novo. Isso levou o presidente Obama ao extremo.

É preciso reconhecer. Obama também não acreditava ter autoridade legal para proteger milhões de sem documentos. Ele disse isso a mim pessoalmente e o repetiu muitas vezes. "Não sou um rei", disse certa vez. "Não sou imperador dos EUA", afirmou em outra ocasião. Mas sua posição evoluiu, ele mudou de ponto de vista e agora sim, acredita ter autoridade para fazer o que fez em 20 de novembro passado.

Ele tem razão. Isso é exatamente o que fazem os presidentes; tomam decisões executivas sobre os grandes problemas do país. Os mandatários republicanos Ronald Reagan e George Bush pai também tomaram decisões executivas - em 1987 e em 1990, respectivamente - para beneficiar milhões de sem documentos. É hipócrita criticar Obama por fazer o mesmo.

O que levou a essa mudança na posição do presidente Obama? Primeiro, a intransigência dos republicanos no Congresso. Depois, a enorme pressão que os Sonhadores (estudantes sem documentos), congressistas hispânicos, organizações latinas e muitos jornalistas exercemos sobre a Casa Branca. Mas creio que no fundo havia algo muito mais pessoal. Era uma dívida pendente do presidente Obama.

O presidente nos fez uma promessa em 2008: apresentar uma proposta migratória no Congresso durante seu primeiro ano de mandato, e não a cumpriu (apesar de os democratas controlarem ambas as câmaras do Congresso). Esse erro pesou sobre toda a sua presidência. A decisão executiva que acaba de tomar é uma maneira de compensar essa promessa descumprida e de fazer as pazes com a comunidade latina. Esta é minha própria interpretação. Certa ou não, milhões lhe agradecem pelo que fez.

Esta ação executiva é só o primeiro passo. Muitos ficaram de fora. Dói-me particularmente que não tenha incluído os pais dos Sonhadores. E não esqueçamos que é temporária e que pode ser revogada pelo próximo presidente. Por isso, o novo objetivo é comprometer os candidatos presidenciais de ambos os partidos a não revogarem essa decisão e a promoverem uma reforma migratória, permanente, para 2017.

Enquanto isso, é importante dizer para mexicanos e centro-americanos que estão pensando em vir agora para os EUA que não se qualificam para esta ação executiva. É só para os que já estão aqui, para os que chegaram antes de 1º de janeiro de 2010. Seria muito perigoso, e sobretudo uma perda de tempo e dinheiro.

Por último, tenho que reconhecer que os EUA foram sumamente generosos comigo e que esta decisão presidencial reafirma minha convicção de que, no final das contas, este pode ser um grande país com os imigrantes. "Thanks. Really." (Obrigado. Mesmo.)

Pós-escrito da outra "Casa Branca"

Os protestos que pedem a renúncia do presidente do México, Enrique Peña Nieto, se baseiam em sua incapacidade e negligência para controlar a violência, como demonstram as chacinas de 43 estudantes em Ayotzinapa e de 22 civis em Tlatlaya. Mas também porque existe a suspeita de corrupção.

É um gravíssimo conflito de interesses e tráfico de influências o fato de um contratado do governo financiar secretamente a casa particular da mulher do presidente, independentemente de sua renda. Por que está pagando US$ 4 milhões por uma casa avaliada em US$ 7 milhões? (Agora ela diz que venderá a casa.)

Outro ponto: o presidente acaba de declarar que tem uma fortuna de 45 milhões de pesos. Então por que me disse em uma entrevista em 2009 que não era milionário? Há dúvidas sobre dúvidas. Assim ninguém pode acreditar no presidente. Assim ele não poderá governar.