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Opinião: Invisíveis e sem voz, imigrantes sem documento precisam ser respeitados

John Moore/Getty Images/AFP
Imagem: John Moore/Getty Images/AFP

Jorge Ramos

23/04/2015 00h03

Eles estão aí, mas muitos não os veem. São invisíveis para a maioria dos americanos, apesar de serem mais de 11 milhões e fazerem para eles os trabalhos mais difíceis, os que ninguém quer fazer. Chamam-nos de ilegais e criminosos.

Sim, é verdade, violaram a lei ao entrar sem autorização nos EUA ou quando ficaram no país por mais tempo do que seu visto autorizava. Mas não é um crime. Vêm porque milhares de empresas americanas os contratam e porque seu trabalho beneficia milhões de pessoas. Por isso eles vêm. Todos somos seus cúmplices.

Comemos o que eles colhem. Dormimos em casas e apartamentos que eles constroem. E muitas vezes, quando vamos a um hotel, restaurante ou comércio, algum deles nos atende. Fazem parte de nossas vidas, mas não os vemos. São invisíveis.

Na verdade, eles tentam se tornar invisíveis. Não fazem barulho. Não brigam. Escondem-se. Não querem que a polícia os detenha por uma infração de trânsito, porque podem perder o carro e até ser deportados. Sempre estão se despedindo, quando saem de suas casas não sabem se voltarão à noite para ver seus filhos.

O governo do presidente Obama deportou mais de 2 milhões de imigrantes desde que chegou à Casa Branca. Mais que qualquer outro presidente. Mas pelo menos protegeu da deportação centenas de milhares de "sonhadores" - estudantes sem documentos - e com sua ação executiva pretende fazer o mesmo com mais de 4 milhões de imigrantes. Se o deixarem.

Atualmente há muita confusão. A ação executiva de Obama está emperrada nos tribunais. Vinte e seis Estados a contestaram e os sem documentos, como sempre, não têm remédio senão esperar. E esperar.

Para variar, isso se transformou em tema de campanha eleitoral. Ocorre a cada quatro anos. Não há nada mais fácil que atacar os que não podem se defender publicamente.

Muitos pré-candidatos republicanos e comentaristas conservadores falam dos sem documentos como se fossem seres descartáveis, que podem ser empacotados e enviados para qualquer parte do mundo. Esquecem que suas famílias também vieram de outro lugar. Mas esse esquecimento poderá lhes custar muito caro nas urnas.

Em uma eleição muito acirrada, os eleitores latinos decidirão quem será o próximo presidente dos EUA. Não é magia. É matemática. Barack Obama ganhou a última eleição com apenas 5 milhões de votos a mais que Mitt Romney. No próximo ano, calcula-se que 16 milhões de latinos votarão, número mais que suficiente para eleger o vencedor.

Na realidade, é um conceito muito simples: nenhum hispânico votará em um candidato que quiser deportar seu pai e sua mãe, seus amigos, vizinhos, colegas de trabalho ou estudantes jovens.

O líder histórico dos hispânicos, César Chávez, disse há 31 anos: "Eu vi o futuro, e o futuro é nosso". Esse futuro é hoje. Todo ano 800 mil latinos completam 18 anos, a idade para votar, segundo o Centro Pew. Em 2050, um em cada três americanos terá sobrenome hispânico. Sim, o futuro é nosso e logo incluirá o primeiro presidente latino.

Os latinos nos EUA sabem que não há nada mais difícil que ser imigrante. Você abandona tudo - casa, amigos, família, idioma - por uma aposta: que você e seus filhos viverão melhor. (Por isso há mais de 230 milhões de imigrantes no mundo.)

Os grandes países são medidos não pela maneira como tratam os ricos e poderosos, e sim por sua forma de cuidar dos mais vulneráveis. E os imigrantes são os mais vulneráveis. Os EUA precisam decidir agora que tipo de país querem ser. Só espero que tratem os imigrantes que chegaram depois de mim com a mesma generosidade e respeito com que eu fui tratado.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves