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A guerra interminável

04/06/2015 06h00

Não há guerra boa. Todas as guerras falam de nossa estupidez e de nossa incapacidade de resolver os problemas sem violência.

Mas a guerra do Iraque foi particularmente absurda porque começou pelas razões erradas, custou dezenas de milhares de vidas - incluindo as de mais de 4.400 soldados americanos - e deixou o país mais instável e perigoso.

A guerra no Iraque foi uma invenção do ex-presidente George W. Bush. Ele afirmou, sem confirmar, que o ditador Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, e em março de 2003 decidiu atacar.

Os inspetores da ONU não puderam terminar seu trabalho antes que as primeiras bombas começassem a cair. Para o governo americano e seus aliados, claramente, era urgente começar essa guerra.

Saddam Hussein era um ditador sanguinário, sem dúvida, mas nesse momento não tinha armas de destruição em massa nem teve nada a ver com os atos terroristas que mataram quase 3 mil americanos em 11 de setembro de 2001.

É imperdoável e indignante que Bush tenha começado uma guerra sem ter certeza do que dizia. E jamais saberemos se Bush, na realidade, sempre soube que no Iraque não havia armas de destruição em massa, nos enganou e atacou por outras razões obscuras.

Arrastaremos esse erro por décadas.

Na época, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, disse em uma entrevista à PBS que os soldados americanos seriam "bem-vindos" no Iraque. Não foi assim. A mim, coube-me ver na população iraquiana de Safwan, na fronteira com o Kuwait, como os civis do Iraque viram chegar os tanques dos EUA - sem flores, sem cantos e sem sorrisos.

Hoje o Iraque, longe de ser uma democracia, é um país onde existem vários grupos terroristas - incluindo a Al Qaeda e o Estado Islâmico (EI) - que ameaçam os EUA dentro e fora de seu território. Essa guerra criou mil pequenos Osamas Bin Laden.

Ainda há um pequeno grupo de soldados americanos no Iraque - cerca de 3 mil não em missões de combate, apoiando o frágil governo de turno -, mas a guerra continua. Se os jihadistas do EI acabarem por controlar Ramadi, seu objetivo seguinte será Bagdá, a capital.

Perdeu-se uma boa parte do território que tanto custou ganhar no início do conflito, e hoje ninguém sabe como terminar essa guerra.

O ex-governador Jeb Bush, irmão de George W. Bush, trouxe essa guerra de volta ao noticiário quando deu várias respostas diferentes sobre o que ele teria feito como presidente. Afinal, como todos os candidatos presidenciais, Jeb concluiu que não teria invadido o Iraque como seu irmão.

Isto nos leva a várias conclusões. A primeira é que não podemos crer nos presidentes, muito menos quando se trata de um assunto de vida ou morte. Jornalistas e políticos deveríamos ter sido mais firmes e duros ao exigir evidências do que dizia o governo americano antes do primeiro disparo.

A outra conclusão é que sim, o Iraque deve ser um tema de campanha em 2016. Muitos dos candidatos, incluindo Hillary Clinton, autorizaram no Congresso ou apoiaram publicamente a invasão injustificada. Essa negligência não deve se repetir.

A terceira conclusão é que muitos presidentes começam guerras que impactam nossas vidas. Se não quisermos na Casa Branca outro presidente belicoso, é preciso dizer isso e ir votar. Uma das razões pelas quais me converti em cidadão dos EUA em 2008 foi para votar contra qualquer candidato que propusesse uma guerra injustificável como a do Iraque.

O Iraque é a guerra interminável. Apesar de os EUA oficialmente a terem dado por terminada, continua nos atormentando e sofreremos suas consequências por muitas décadas ainda. Há mais de 32 mil veteranos que ficaram feridos, e do Iraque facilmente se poderia planejar o próximo ataque terrorista contra os EUA.

O mais absurdo da guerra no Iraque é que se você perguntar aos soldados ou aos políticos dos EUA se ela foi ganha ou perdida, ninguém sabe. Não existe consenso. Ninguém sabe com certeza como definir vitória no Iraque.

Isso acontece quando se inicia uma guerra por razões equivocadas. Por isso, temos o direito de saber se o próximo ou a próxima presidente quer nos meter em outra guerra inútil.
Temos de perguntar antes de votar.