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George Clooney e o lado ruim da fama

Clooney ficou bem no "selfie", já o fã... - Reprodução/Imgur
Clooney ficou bem no 'selfie', já o fã... Imagem: Reprodução/Imgur

Jorge Ramos

Em Beverly Hills, Califórnia (EUA)

11/06/2015 00h01

O ator George Clooney tem um problema. Muita gente que se aproxima dele, em vez de cumprimentá-lo e lhe dar um aperto de mão, puxa o celular e começa a filmá-lo.

"Deixamos de viver nossas vidas", disse ele certa vez em uma entrevista. "Agora só a gravamos em nossos telefones."

Isso lhe acontece com frequência. Em um jantar de arrecadação de fundos com o presidente Barack Obama, conta o ator, eles ficaram cercados de gente que fazia fotos e vídeos. "Você pode dizer que filmou o presidente dos Estados Unidos, mas não pode dizer que o conheceu", disse Clooney. "Entendo isso. Não estou me queixando. O mundo é assim. Mas é triste pelo tanto que estamos perdendo."

Ali estava, na minha frente, um dos homens mais fotografados do mundo. Entrevistei dezenas de presidentes e líderes mundiais, mas nunca alguém tão famoso quanto Clooney. Entretanto, como sempre acontece com os que não têm nada a provar, sua atitude era muito amável e sincera, brincando e cumprimentando a todos. Sem gravata e de jeans, vestiu um paletó cinza só para dar um pouco de importância ao filme que estava promovendo, "Tomorrowland". Tinha 12 minutos exatos de entrevista. Nem um a mais. Mas ele parecia andar sem pressa. Cruzou a perna e começou a falar.

Clooney acredita que a fama é uma questão de sorte. "Eu já trabalhava havia 15 anos quando me ofereceram fazer a série de televisão 'ER'", contou. "Mas se 'ER' tivesse sido transmitida nas sextas-feiras, em vez das quintas, não teria sido o sucesso que foi. Essa é a importância da sorte."

É este tipo de explicação que faz de Clooney uma raridade entre as estrelas de Hollywood: um dos homens mais famosos do mundo diz que foi por sorte. Mas o ator, produtor, diretor e ganhador de dois Oscars --protagonista em mais de 20 filmes, incluindo "Gravidade" e "A Tempestade Perfeita"-- sabe usar sua fama, venha de onde vier. Durante anos lutou para chamar a atenção mundial para o genocídio na região de Darfur, no Sudão, e nunca se desculpou por apoiar abertamente as candidaturas presidenciais de Barack Obama e agora a de Hillary Clinton.

Lembrei-lhe que, em 2008, ele havia dito que Hillary era uma das figuras mais divisórias da política norte-americana. Ele admitiu. "Mas creio que com o tempo deixou de sê-lo, porque foi uma... secretária de Estado incrivelmente bem sucedida." E continuou: "Por isso, creio que agora está pronta para ser presidente."

Clooney não gosta de brigar, muito menos em público. Quase nunca responde às críticas na imprensa. A exceção foi quando uma publicação britânica falou de sua então noiva (e hoje esposa), Amal Alamuddin. Ele respondeu com uma forte coluna no jornal "USA Today".

"Eles estavam tentando fomentar o ódio religioso ao dizer que minha mulher é drusa, e ela não é", explicou-me. "E como ela ia se casar com alguém fora de sua religião, disseram que os drusos queriam assassinar minha noiva, matar minha mulher. Bem, isso não é verdade."

Esse tipo de confrontação quase não ocorre no mundo de Clooney. Ao contrário, ele acredita que é uma virtude quando os atores não são tão acessíveis ao público. Por isso não tem Twitter, Facebook ou Instagram.

"Se você vai pedir que as pessoas paguem para vê-lo em um filme, elas não precisam saber o que você pensa o tempo todo", disse- me. "Creio que tem de haver um elemento de mistério."

É exatamente esse mistério o que faz que, quando as pessoas veem George Clooney em pessoa, começam a filmá-lo em vez de iniciar uma conversa. É, sem dúvida, o lado ruim da fama.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves