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Eleição nos EUA: basta de mitos, insultos e idiotices sobre imigrantes

Jorge Ramos

16/07/2015 00h01

Já escutei todo tipo de insultos. Não, não é que tenha me acostumado. Mas cada vez que há eleições ou problemas nos Estados Unidos, já sei que vou ouvir duras críticas, insultos e idiotices sobre os imigrantes sem documentos que vêm da América Latina.

Para os candidatos presidenciais em busca de votos, para os políticos oportunistas, para os comentaristas de televisão e para os faladores nas redes sociais é fácil acusar os imigrantes, porque geralmente eles não podem se defender. Quando foi a última vez que apareceu um sem documento na TV ou respondendo às críticas de um pré-candidato à Casa Branca? Exato, ninguém representa os sem documentos, e eles preferem não falar para não serem deportados.

Culpam-nos pela criminalidade, pelos problemas econômicos e por terem violado a lei. Enganam-se. Os números dizem outra coisa.

Comecemos pelo crime. É um mito que os sem documentos aumentam a criminalidade nos EUA. Isso é falso. A grande maioria dos sem documentos, venham de onde vierem, não é composta por criminosos ou violadores. As estatísticas demonstram que o aumento de imigrantes sem documentos nos EUA significou uma redução na criminalidade.

De 1990 a 2012, o número de sem documentos aumentou de 3,5 milhões para 11,2 milhões, segundo o censo e o Pew Center. E nesse mesmo período, segundo o FBI, a porcentagem de crimes violentos baixou 48%. (aqui está o estudo do American Immigration Council

Outro dado. Também é falso que os imigrantes sejam mais violentos e criminosos que os nascidos nos EUA. Estes terminam mais na prisão (3,51%) do que os nascidos no estrangeiro (0,86%), de acordo com o Migration Policy Institute (esta é a fonte)

É injusto culpar todos os imigrantes sem documentos pelos crimes de alguns poucos. Isso seria tão injusto quanto culpar todos os norte-americanos pelo massacre que um norte-americano cometeu em uma igreja de Charleston, Carolina do Sul, onde morreram nove pessoas, ou pela chacina cometida por outro em um cinema de Aurora, Colorado, onde assassinaram 12.

Conclusão: os imigrantes, legais e sem documentos, NÃO cometem mais crimes que o restante da população. Em troca, os imigrantes, SIM, são responsáveis por uma melhora na economia dos EUA.

Contribuem economicamente muito mais do que recebem em saúde, serviços sociais e educação para seus filhos. Pagam impostos, criam empregos e fazem os trabalhos que ninguém mais quer fazer. Colhem nossa comida, constroem as casas onde moramos e cuidam de nossos filhos.

Outro dado. Os imigrantes são um grande negócio. A legalização da maioria dos sem documentos, como propôs o Senado em 2013, geraria uma contribuição econômica de US$ 700 bilhões nos primeiros dez anos. Não é invenção. (aqui está o estudo da Casa Branca e do Escritório de Orçamento do Congresso)

Os sem documentos violaram a lei? Sim, é verdade. Mas foi porque aqui há milhares de empresas norte-americanas que lhes deram trabalho e que precisam deles. Essas empresas também infringiram e estão infringindo a lei.

Além disso, embora doa escutá-lo, somos seus cúmplices. Milhões de pessoas, inclusive você e eu, nos beneficiamos do trabalho dos sem documentos. Sim, somos todos responsáveis: os sem documentos, por violar a lei, e nós, por lhes darmos emprego e nos beneficiarmos de seu trabalho.

E já que é impossível, absurdo e desumano deportar 11 milhões de pessoas e separar milhares de famílias, é urgente uma solução, e não mais grosserias e discursos carregados de falsidades e preconceitos étnicos. Esse é um problema econômico e social, binacional, que exige uma solução política. Quem levanta a mão para ajudar?

Cada vez que há uma eleição presidencial nos EUA, parece que o principal inimigo deste país são os imigrantes sem documentos. Não o são. Espero que esta eleição e este debate ajudem a resolver o grave assunto dos sem documentos de uma vez por todas.

(Atenção, candidatos: os eleitores latinos conhecem o verdadeiro valor dos imigrantes, legais e sem documentos, e não vão votar a favor de alguém que os ofenda e os critique injustamente. E vocês já sabem: ninguém chega à Casa Branca sem o voto dos latinos. Basta de mitos, insultos e idiotices.)

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves