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Como agarrar o "Chapo"

Jorge Ramos

20/08/2015 00h01

Se realmente é preciso recapturar o traficante Joaquín Guzmán Loera, o "Chapo", é difícil entender por que o presidente do México, Enrique Peña Nieto, não telefonou para o ex-presidente da Colômbia, César Gaviria.

O narcotraficante mais poderoso do mundo, Pablo Escobar, escapou da prisão na Colômbia em 1992, mas 13 meses depois Gaviria o encurralou e matou. Gaviria poderia ajudar a recapturar o Chapo. Mas ninguém no governo mexicano o procurou.

Não sei se é uma questão de orgulho, de nacionalismo idiota ou mais um sinal de incompetência e paralisia. Mas o México precisa de todo tipo de ajuda. O governo mexicano demonstrou, mais uma vez, que sozinho não consegue.

Telefonei ao ex-presidente Gaviria e ele me explicou o que faria para agarrar o Chapo. Estes são os pontos mais interessantes de nossa conversa:

A fuga

Há muitas diferenças entre Escobar e o Chapo. Escobar se entregou à justiça em 1991 (para evitar que o extraditassem para os EUA), enquanto o Chapo foi capturado em um apartamento em Mazatlán. Mas os dois escaparam por causa da corrupção, na Colômbia e no México.

"Usamos uma brigada inteira do exército cercando a prisão", disse-me o ex-presidente Gaviria, "e no dia [21 de julho de 1992] em que tentamos transferi-lo - porque continuava praticando crimes -, por um fenômeno de corrupção, de intimidação e de vacilações das autoridades militares, ele saiu caminhando entre os soldados. O que se aprende é que a capacidade de corrupção e intimidação dessas pessoas é enorme."

Punição dos responsáveis pela fuga

"Houve sanções. Alguns funcionários públicos saíram do governo devido ao que ocorreu", lembrou Gaviria. Na Colômbia, dois ministros e dois altos comandantes do exército foram destituídos por causa da fuga de Pablo Escobar. Além disso, houve um julgamento no Congresso.

No México, por sua vez, há três bodes expiatórios pela fuga do Chapo e todos os funcionários importantes continuam em seus cargos.

Enviar a mensagem certa

O ex-presidente Gaviria tinha uma viagem marcada a Madri para o mesmo dia em que Escobar fugiu. Mas não foi. "Cancelei minha viagem, estávamos no processo [de buscar Escobar], por isso não fui", disse-me. Era preciso demonstrar à Colômbia e ao mundo que esse era um assunto prioritário.

O presidente do México, por sua vez, não cancelou nem encurtou o giro pela França depois da fuga do Chapo. A mensagem que enviou foi clara: preferiu Paris a regressar ao México para procurar o Chapo.

Criar um bloco de busca

"É preciso criar um grupo - no caso do México, de marinha e exército - e dedicá-lo exclusivamente a isso, a persegui-lo e buscá-lo de maneira sistemática", disse Gaviria. "Tem que se dedicar exclusivamente a isso. Não podem ser os organismos de segurança do Estado. Não, isso exige um grupo especializado. E eu não tenho dúvida de que o México pode consegui-lo... Nós nomeamos e escolhemos um bloco de busca do exército e polícia e desmantelamos o cartel de Medellín."

Vivo ou morto

"É verdade que o senhor disse em uma reunião que o objetivo não era capturar Pablo Escobar vivo?", perguntei. "Não, não, não", Gaviria corrigiu-me. "O que havia era a decisão de que, qualquer que fosse o nível de resistência, se não o capturassem o matariam. Ele não se deixaria capturar, tampouco. E o bloco de busca não era um grupo pequeno, era um grupo grande, não foi uma coisa acidental. Foi um grupo que trabalhou um ano e meio a perseguir Escobar."

Gastar muito mais em segurança

"Preocupa-me muito que o México não encare seu problema de segurança com a seriedade com que a Colômbia o encarou", disse Gaviria.

"A Colômbia é um país que gasta 6% do PIB em segurança. Isso é parecido com os EUA ou um pouco mais. A Colômbia tem muitos instrumentos para combater o narcotráfico. O México não tem instrumentos especiais... Está chegando a hora de que tenham uma política mais agressiva e de que invistam muito mais em segurança. O México - creio - não gasta nem 1,5% do PIB em segurança. Ou seja, a Colômbia gasta quatro vezes o que o México gasta. Enquanto for assim, o problema de segurança não será resolvido."

É imperdoável que o Chapo tenha escapado do presidente Peña Nieto. Mas ainda mais grave é que tudo continue igual no México depois da fuga. Não há mudanças no governo, os cartéis continuam desafiando o Estado e ninguém pode garantir a vida dos mexicanos.

Gaviria sabe disso, e terminou assim a conversa: "A obrigação do presidente do México não é tanto conter as drogas, quanto ganhar segurança para o país". (Aqui está parte de minha entrevista com Gaviria pela televisão. E seus conselhos estão a um telefonema de distância.)

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves