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Bem-vindos à Trumplândia

O magnata e pré-candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, discute com Jorge Ramos, apresentador da emissora hispânica "Univisión", durante uma entrevista coletiva nesta terça-feira (25) em Dubuque, no Estado de Iowa - Ben Brewer/Reuters
O magnata e pré-candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, discute com Jorge Ramos, apresentador da emissora hispânica "Univisión", durante uma entrevista coletiva nesta terça-feira (25) em Dubuque, no Estado de Iowa Imagem: Ben Brewer/Reuters

Jorge Ramos

26/08/2015 09h26

Vamos imaginar o país que Donald Trump deseja. A "Trumplândia" teria um grande muro de 3.126 quilômetros na fronteira com o México. Em uma operação gigantesca, deportaria mais de 11 milhões de sem documentos. Seus filhos nascidos nos Estados Unidos não teriam passaporte nem país e, eventualmente, também seriam deportados. Assim, e só assim, os EUA voltariam a ser uma grande nação.

Essa é a utopia que Trump está vendendo aos norte-americanos enquanto faz campanha pela indicação presidencial republicana. Mas essa utopia é uma mentira. Os sem documentos não são responsáveis pelos principais problemas do país. O que Trump propõe é impossível de se conseguir. A Trumplândia seria como um filme de ficção científica muito ruim e tenebroso.

Para que a Trumplândia se livrasse dos sem documentos, primeiro teria que viver o terror. Imaginem o horror de deter em casas, trabalhos e escolas milhões de homens, mulheres e crianças. Para conseguir isso em curto prazo, seria necessário usar o Exército, a polícia e todos os agentes do serviço de imigração. Os tribunais ficariam paralisados, transbordados, e haveria violações maciças aos direitos humanos.

Depois das brutais batidas, seria necessário deter em estádios ou em enormes locais públicos os sem documentos, para depois serem deportados em ônibus --para o México-- e em aviões para o restante do mundo. O custo? Cerca de US$ 137 bilhões, isto é, US$ 12.500 por imigrante, segundo um cálculo do ICE.

Se a Trumplândia alterasse a Emenda 14 da Constituição e retirasse a cidadania dos filhos de sem documentos nascidos nos EUA, primeiro teria de deportar 4,5 milhões dessas crianças que já vivem no país. Mas para que país? Se o pai for do México e a mãe de Honduras, aonde se enviaria uma criança sem pátria nem passaporte?

O que aconteceria com as mães sem documentos depois de dar à luz e com seus bebês? Seria patético meter-se no terrível e desumano negócio de deportar bebês, crianças e estudantes.

O problema da Trumplândia, claramente, é com os mexicanos, não com os canadenses. Por isso, Trump construiria um muro para separar os EUA do México. Mas não tocaria na maior fronteira do mundo, a que compartilha por 8.840 quilômetros com o Canadá.

Construir muros é um mau negócio: custam muito e não resolvem.

Cada milha (1,6 km) custa pelo menos US$ 16 milhões (segundo relatou o "New York Times"). Das 1.954 milhas de fronteira, já há muros, cercas e alambrados em 670 milhas. Mas em 1.284 milhas não há nada. Erguer um muro ali custaria pelo menos US$ 20 bilhões.

Mas construir esse muro seria uma incrível perda de tempo e dinheiro. Quase 40% dos sem documentos que entram nos EUA o fazem de avião, e simplesmente ficam no país além do limite de seus vistos. Isso nenhum muro detém.

Além disso, o muro é desnecessário. O número de imigrantes sem documentos nos EUA baixou de 12,2 milhões em 2007 para 11,3 milhões em 2014, e mais de 18 mil agentes patrulham a fronteira sul.

De fato, já em 2013 entraram nos EUA mais imigrantes da China (147 mil) que do México (125 mil), segundo reportagem no "Wall Street Journal". O que Trump pensa fazer a esse respeito? Construir outra muralha da China?

Trump se equivoca. O México não faz parte de nenhuma conspiração para enviar criminosos e violadores aos EUA. De fato, seu governo está bastante ocupado lidando com seus próprios problemas, como a fuga de El Chapo, a narcoviolência, vários casos de corrupção e a acelerada desvalorização do peso. E é importante esclarecer: a maior parte dos imigrantes que vêm do México não é de criminosos. Todos os estudos concordam em que os níveis de criminalidade entre os imigrantes são menores do que entre os nascidos nos EUA. Ponto.

A Trumplândia --essa utopia cheia de muros e de ódio contra os imigrantes-- não é os EUA que eu conheço. A Trumplândia seria o reino da intolerância, da xenofobia e da divisão.

As grandes nações não se definem pela maneira como tratam os ricos e os poderosos, mas pela forma como cuidam dos mais vulneráveis. Hoje, nos EUA, os sem documentos e seus filhos são os mais vulneráveis. E Trump decidiu ir contra eles.

A Trumplândia é o horror.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves