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Em 40 anos, todos serão minorias nos EUA

Festa do Ano-Novo chinês em Nova York, em fevereiro deste ano; número de asiáticos nos EUA deve superar o de latinos - Peter Foley/EFE
Festa do Ano-Novo chinês em Nova York, em fevereiro deste ano; número de asiáticos nos EUA deve superar o de latinos Imagem: Peter Foley/EFE

Jorge Ramos

15/10/2015 00h01

Com tantos ataques aos imigrantes nos EUA durante a atual campanha pela presidência, o que muitos americanos menos querem ouvir é que seu país vai mudar ainda mais. Mas essa é a notícia. Segurem-se.

Sim, os EUA estão prestes a se transformar em um dos países mais diversificados e multiculturais do mundo. E isso aconteceu devido à entrada de um número enorme de imigrantes.

Aqui estão os cálculos: nos últimos 50 anos, aumentou para 45 milhões o número de estrangeiros que vivem nos EUA. Nos próximos 50, chegarão a 78 milhões, segundo um estudo visionário do centro de pesquisas Pew. Isto é, a porcentagem de imigrantes que vivem nos EUA passará dos atuais 15% para quase 18% da população.

O que isso significa é que neste país haverá caras novas, sotaques diferentes, muitas combinações de culturas e comida, música e arte de todo o mundo. Os EUA - a principal potência econômica e militar - estão prestes a se transformar em uma espécie de resumo planetário. Se em meio século chegarem extraterrestres e quiserem uma visão muito rápida de como é o mundo, bastaria visitar Los Angeles, Miami e Nova York.

A grande mudança virá aproximadamente no ano de 2055.

Mais ou menos então os brancos (não hispânicos) deixarão de ser maioria nos EUA. Todos - brancos, afro-americanos, hispânicos e asiáticos - seremos minorias.

Outra grande mudança que virá em 2055 é que nos EUA haverá mais imigrantes de países asiáticos - China, Índia, Filipinas, Coreia e Vietnã, entre outros - do que de nações da América Latina. De fato, essa mudança já está ocorrendo. Em 2013 entraram mais imigrantes da China (147 mil) e da Índia (129 mil) que do México (125 mil), segundo o "Wall Street Journal".

A onda latina está dando lugar à onda asiática.

Isso vai implicar enormes doses de tolerância e negociação. Da mesma forma que hoje Donald Trump ataca os imigrantes latino-americanos, eu não estranharia que em 2055 surgisse um candidato presidencial que começasse a atacar os imigrantes asiáticos para ganhar votos.

É claro que não seria possível construir uma muralha separando da China - como Trump propõe com o México -, mas poderiam ressurgir terríveis exemplos da História. Não podemos esquecer que em 1882 os EUA criaram uma lei para evitar a entrada de imigrantes chineses na Califórnia e no oeste do país.

Os cientistas sociais do Pew permitiram que víssemos o futuro. Seu trabalho foi extraordinário. O que estão nos dizendo é que o crescimento populacional dos EUA dependerá cada vez mais dos imigrantes. Esse é um duro golpe para os que querem limitar o número de estrangeiros no país.

A realidade é que nos próximos 50 anos entrarão nos EUA 1,5 milhão de pessoas, em média, a cada ano. Por isso é urgente que tenhamos um novo sistema migratório capaz de processar legalmente os imigrantes que já estão aqui e os milhões que estão por chegar.

Os EUA são um ímã para imigrantes, e isso não vai mudar. É totalmente absurdo pensar em deportações maciças - Trump quer deportar 11 milhões em dois anos - quando o país precisa de mãos e mentes imigrantes para continuar crescendo economicamente. As ideias de Trump vão contra o rumo da história.

O ano de 2055 promete trazer grandes mudanças. Acabo de fazer a conta e, se tudo correr bem, eu teria 97 anos. Por isso, o mais provável é que não caiba a mim vê-lo, nem - que pena - a muitos de vocês.

Não há desculpas. Já nos advertiram. Os EUA são um país de imigrantes e outros milhões estão a ponto de chegar. A onda asiática está começando.

Trata-se de estarmos preparados para lhes dar as boas-vindas.