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Eleições nos EUA: Falta um ano

Os democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders - Joe Raedle/Getty Images/AFP
Os democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders Imagem: Joe Raedle/Getty Images/AFP

05/11/2015 06h01

Fiquem tranquilos. A briga pela Casa Branca é tão feroz que parece que as eleições presidenciais serão amanhã. Mas não. Falta um ano. Ainda há tempo para separar os improvisadores dos mais preparados e os fanfarrões dos verdadeiros líderes. Estar à frente do país mais poderoso do mundo não é qualquer coisa.

Mas a primeira coisa que me chama a atenção nesta campanha eleitoral é que os candidatos não refletem a população, nem em gênero, nem em grupos étnicos, nem em temas.

Dos 18 candidatos que havia em um momento (15 republicanos e 3 democratas), só dois são mulheres: a republicana Carly Fiorina e a democrata Hillary Clinton. Em um país onde há mais mulheres (161 milhões) que homens (156 milhões), segundo dados de 2013, isso é decepcionante e preocupante.

O mesmo acontece em relação aos grupos étnicos. A presidente da Comissão Nacional Democrata, Debbie Wasserman Schultz, disse-me em uma entrevista que eles são "o partido da diversidade".

Entretanto, no último debate presidencial entre democratas não vi nenhum candidato latino, afro-americano ou asiático. Sim, é verdade, Barack Obama foi o primeiro presidente afro-americano da história. Mas isso aconteceu em 2008. O que fizeram os democratas desde então para preparar candidatos presidenciais das minorias? Aparentemente, não muito.

Entre os candidatos republicanos há mais diversidade. O neurocirurgião Ben Carson é afro-americano e, pela primeira vez, há dois candidatos latinos em busca da Presidência: o senador Ted Cruz e o senador Marco Rubio. Ambos são filhos de imigrantes, e também o governador Bobby Jindal, que tem pais indianos.

Infelizmente, nem Cruz nem Rubio apoiam a legalização da maioria dos 11 milhões de imigrantes sem documentos, segundo a última pesquisa do jornal "The New York Times". Isto é, quase todos os candidatos do Partido Republicano não pensam como a maioria de seus eleitores.

A resistência é tal que o novo líder da Câmara de Deputados, o republicano Paul Ryan, prometeu bloquear qualquer plano de legalização até 2017. "Não haverá nenhuma reforma migratória sob o presidente (Obama)", disse ele à revista "National Review".

Ryan começa mal. Isso não demonstra nenhuma vontade política de resolver um dos principais problemas do país. Se quiser ter êxito como líder nacional, Ryan deve se afastar das ideias de Donald Trump.

Entretanto, temos de reconhecer que os primeiros meses da campanha presidencial nos EUA foram marcados pelas declarações aloucadas, insultantes e ignorantes de Donald Trump sobre os imigrantes. Ele pode ter muitos milhões, mas não entende para onde vai este país. Até 2055, os brancos --de cuja ajuda Trump precisa para tentar ganhar a Presidência-- serão mais uma minoria.

Em 40 anos, todos faremos parte de uma minoria, e a mudança já se nota. Sem latinos, não há Casa Branca. Trump afirma que os hispânicos o amam. Não é verdade. Como vão gostar dele com tantos insultos?

Uma pesquisa da AP diz que só 11% dos hispânicos têm uma opinião positiva sobre Trump. Isso não é suficiente para ganhar a Casa Branca. Mitt Romney obteve 27% dos votos latinos em 2012 e perdeu.

Para John McCain, 31% dos votos hispânicos também não bastaram para ganhar em 2008. É impossível que Trump chegue à Casa Branca com só 11% dos latinos. Há nuvens na Trumplândia.

Que campanha mais estranha, com tantos candidatos distantes dos eleitores! Mas calma; ainda temos um ano inteiro. Os extremos quase sempre se vão, e as eleições são ganhas com o voto dos que estão no centro.

Cruzem os dedos. Não. É melhor ir votar.