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Opinião: Visita de Obama não deve causar mudanças na ditadura cubana

Barack Obama e Raúl Castro na sede da ONU, em Nova York, em setembro de 2015 - Andrew Harnik/AP
Barack Obama e Raúl Castro na sede da ONU, em Nova York, em setembro de 2015 Imagem: Andrew Harnik/AP

17/03/2016 00h02

Como não vou querer que haja uma democracia em Cuba, que os cubanos não sejam reprimidos nem censurados e que os ditadores Raúl e Fidel Castro apodreçam em uma prisão?

A grande ilusão é que a recente abertura dos EUA para Cuba e a próxima viagem este mês do presidente Barack Obama a Havana produzam uma mudança na ilha. Mas a verdade é que a ilha continua sendo uma brutal ditadura, e não fez uma só mudança significativa desde que reabriu sua embaixada em Washington.

Não há visitas milagrosas. Muitos acreditaram, equivocadamente, que a visita do papa João Paulo 2º em 1998 promoveria uma reforma democrática. "Oxalá Cuba, com todo o seu magnífico potencial, se abra ao mundo, e oxalá o mundo se abra a Cuba", pediu o papa. Mas Cuba não se abriu para nada.

Tampouco o fez com a visita no ano passado do papa Francisco. O pontífice argentino se comportou com um incompreensível servilismo, não quis se reunir com dissidentes e até chamou de "presidente" o ditador Raúl Castro.

Cuba tem algo que faz muitos morderem a língua. O escritor colombiano Gabriel García Márquez defendeu até sua morte a Fidel Castro, um tirano que bem poderia ser o protagonista de sua novela "O Outono do Patriarca".

Se dois papas e um prêmio Nobel não mudaram nem um pouco o regime cubano, minhas esperanças de que um presidente americano que já está de saída o faça são muito poucas.

Milhares de cubano-americanos também têm suas dúvidas: 40% dos cubanos que vivem nos EUA rejeitam a nova política da Casa Branca para Cuba, segundo uma pesquisa nacional da Bendixen & Amandi. Por quê? Primeiro, nunca foram consultados, e não acreditam nos poderes mágicos de Obama. Além disso, um dia viveram dentro do monstro.

Não são histórias. "O regime cubano continua reprimindo indivíduos e grupos que criticam o governo e que promovem os direitos humanos", concluiu um relatório da Human Rights Watch (uma organização de defesa dos direitos humanos) de 2014, e tudo continua exatamente igual. (Aqui está o relatório: https://www.hrw.org/world-report/2014/country-chapters/cuba.)

Por muitos anos se repetiu a falácia de que não haveria castrismo sem Fidel Castro (assim como se disse que não haveria chavismo sem Hugo Chávez na Venezuela). Mas Fidel, doente, transferiu seu poder a seu irmão Raúl e agora temos um novo ditador que diz que se aposentará em 2018.

Mas entendamos algo de uma vez por todas: as ditaduras nunca terminam pela generosidade de seus tiranos. É preciso derrubá-las.

A teoria de Obama é que o "poder brando" dos EUA --com mais contatos, mais diplomacia, mais vistos, mais investimentos e mais comunicações-- deveria acabar pouco a pouco com a ditadura marxista. Por isso a insistência de terminar com o embargo americano à ilha; é algo que os Castro querem e também uma parte fundamental da nova estratégia de Obama.

Um dia perguntei a um alto funcionário dos EUA por que não chamavam de "ditador" a Fidel e Raúl Castro. Sua resposta foi um poema: porque o título oficial que o governo cubano lhes atribui é outro. Por isso, quando Obama aterrissar em Cuba em 21 de março, que ninguém se surpreenda com os sorrisos e os discursos, nos quais se referirá ao ditador da vez como "presidente".

Faz 18 anos que me negam o visto de jornalista para entrar em Cuba. Não gostaram das reportagens que fiz na ilha em 1998 sobre os dissidentes e jornalistas independentes. E cumpriram sua promessa de me deixar fora. Não há novidade em que uma ditadura atue como uma ditadura.

Mas espero, um dia, regressar com meus dois filhos. Paola e Nicolás nasceram em Miami, têm sangue cubano e eu gostaria de acompanhá-los aos lugares onde seus avós cresceram. Imagino que seria uma visita parecida com a que fiz ao Chile depois da saída de Augusto Pinochet ou à África do Sul após o fim do apartheid. Os fins das ditaduras sempre são de festa.

Então, e só então, saberemos se Obama tinha razão.