Sexto centenário do nascimento de Joana d'Arc entra nos discursos eleitorais na França
As celebrações do sexto centenário do nascimento de Joana d’Arc ganharam um significado particular na França, por conta da disputa eleitoral. A 107 dias do primeiro turno das eleições francesas, a visita do presidente Nicolas Sarkozy à casa onde nasceu Joana no dia 6 de janeiro, teve repercussões diretas no debate sobre as presidenciais.
Num discurso caprichado, o presidente Sarkozy atualizou o perfil de Joana D’Arc, ilustrando a vida da santa guerreira como um exemplo de patriotismo desprovido de hostilidade contra os estrangeiros. “Para a Igreja, Joana é uma santa. Para a República [francesa], Joana é a encarnação das mais belas virtudes francesas,... do patriotismo que é o amor visceral de seu país sem o ódio dos outros”.
A maioria dos observadores interpretou o discurso como um ataque à propaganda de Marina Le Pen, candidata do Front National nas eleições presidenciais de abril. Arregimentando os setores contrários ao euro, à União Europeia e de extrema-direita, o Front National, fundado e dirigido até recentemente por Jean-Marie Le Pen, pai da atual candidata, assombra as eleições francesas há décadas.
Um dia depois do discurso de Sarkozy em Domrémy, cidade natal de Joana d’Arc, ocorreu a manifestação pública promovida por Jean-Marie Le Pen. Em companhia de sua filha e de seus correligionários, o fundador do Front National discursou na frente da estátua da heroína, numa praça parisiense, reafirmando suas convicções.
Para ele, Joana d’Arc não pode ser homenageada pelos partidos que “entregaram a França ao Europeísmo e à globalização e que querem dissolver o país numa Europa Federal... e que organizaram uma imigração maciça, desrespeitando os princípios pelos quais Joana agiu e morreu”. Le Pen não citou diretamente Sarkozy, mas seu discurso apareceu como uma resposta ao presidente francês.
Mitterrand
Joana d’Arc é uma heroína nacional francesa e santa venerada em comunidades católicas do mundo inteiro. Camponesa líder da luta contra as tropas ocupantes inglesas e seus aliados franceses na guerra dos Cem Anos (1337-1453), comandante vitoriosa na batalha de Orléans aos 17 anos, sentenciada como herética por tribunal eclesiástico e queimada na praça pública de Ruão em 1431, aos 19 anos. Sua personalidade marcou a imaginação de muitas gerações em muitos países.
A tradição da esquerda laica e popular francesa é honrar Joana d’Arc como uma líder camponesa, pobre e patriota que lutou contra poderosos aristocratas, que foi atraiçoada por eles e assassinada pelo alto clero católico. Mas o candidato do Partido Socialista, François Hollande, deixou de lado esta tradição.
Assegurado até agora pela preferência dos eleitores – as últimas pesquisas indicam que ele venceria Sarkozy por uma larga margem de votos no segundo turno das presidenciais no mês de maio – François Hollande procura evitar polêmicas que dividam o eleitorado francês. Desta forma, ele preferiu não se manifestar sobre a visita de Sarkozy à Domrémy ou sobre o discurso de Le Pen.
Seu gesto simbólico foi reservado a François Mitterrand, ex-presidente socialista da França (1981-1988 e 1988-1995), falecido em 8 de janeiro de 1996. Em visita ao túmulo do ex-presidente, no 16° aniversário de sua morte, François Hollande saudou Mitterrand como o “dirigente clarividente”, “o chefe de Estado respeitado”, “o Europeu decidido” e o “homem de cultura”.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.