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O "efeito Snowden": da crise diplomática à crise econômica

Grigory Dukor/Reuters
Imagem: Grigory Dukor/Reuters

30/10/2013 10h23

A cada semana que passa, o abalo sísmico provocado pelas revelações de Edward Snowden causa novas rachaduras na aliança do Atlântico Norte liderada pelos Estados Unidos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O episódio mais recente, e sem dúvida o mais grave, foi a descoberta da espionagem das conversas telefônicas da chefe do governo alemão, Angela Merkel.

ALVOS DE ESPIONAGEM

Telefonemas, e-mails e IPs de computadores de Dilma e assessores
Rede privada de computadores da Petrobras
Telefonemas e e-mails do Ministério de Minas e Energia do Brasil
Telefone celular da chanceler alemã, Angela Merkel
E-mail do ex-presidente do México Felipe Calderón

No dia primeiro de julho deste ano, quando se encontrava em viagem oficial na Tanzânia, Obama deu uma entrevista coletiva tentando desarmar as primeiras críticas contra a rede de espionagem americana na Europa.

Num tom enfático ele declarou: “Quando eu quero saber o que pensa a chefe do governo Merkel, eu telefono para ela; quando eu quero saber o que pensa o presidente Hollande, eu telefono para ele.” Agora, Merkel, Hollande, os dirigentes da União Europeia e a opinião pública do continente europeu sabem que Obama não dizia a verdade.

Mais ainda, a revista alemã "Der Spiegel" informa que a espionagem eletrônica foi executada a partir de um posto central situado na embaixada americana em Berlim. Ora, ao contrário de outros líderes europeus, Merkel tinha estreitas relações com a presidência Obama e passou aos Estados Unidos dados sobre a Al Qaeda e o programa nuclear iraniano coletados pelo serviço de espionagem alemão.

O prestígio de Obama, muito maior na Alemanha e em outros países europeus do que nos Estados Unidos, sofreu um forte abalo. Como escreveu um editorialista europeu, o “efeito Obama”  foi desfeito pelo “efeito Snowden”.

O "Financial Times" registra as queixas de um alto funcionário americano: “Voltamos ao ponto em que estávamos em 2004 [no auge da impopularidade do governo Bush]; os europeus pensam agora que pouco importa se [o presidente] é democrata ou republicano, negro ou branco: é assim [deslealmente,] que os americanos se comportam”.

Afora a crise de confiança entre os americanos e seus principais aliados e a deterioração das relações pessoais entre Obama e os líderes europeus, há um assunto mais grave confirmado nas últimas semanas: todo o aparato de eletrônico manipulado por Washington é também usado, obviamente, para a espionagem econômica em favor dos interesses e das empresas americanas.

Num artigo recente, o "The New York Times" enfatizou o novo papel da CIA na espionagem econômica: “Espionar os aliados para obter vantagens econômicas é uma nova tarefa crucial para a CIA agora que a política externa americana se concentra nos interesses comerciais [americanos] no exterior.”

Para além dos problemas diplomáticos já criados para os Estados Unidos, o “efeito Snowden” pode agora entravar ainda mais as negociações comerciais entre os americanos e os europeus, e o resto do mundo, comprometendo a lenta retomada econômica que se desenha no horizonte da economia ocidental.