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Dilma em Davos

22/01/2014 14h51Atualizada em 22/01/2014 18h42

A presidente Dilma participa pela primeira vez ao Fórum Econômico Mundial de Davos ao lado de 39 outros chefes de Estado e de governo.

Segundo o site especializado sobre economia global Quartz, que traz uma análise comparativa dos Fóruns mais recentes, Davos estará neste ano mais concorrido. Haverá mais diretores (CEO) de empresas globais. O grupo Itaú Unibanco está entre as dez maiores instituições participantes. Haverá também representantes de vinte bancos centrais. Mais da metade dos 2.633 participantes inscritos vem da Alemanha, Estados Unidos, Índia, Reino Unido e Suíça.

Os EUA terão o maior número de representantes oficiais, incluindo 13 membros do Congresso. No noticiário internacional, a presidente Dilma, acompanhada do primeiro-ministro britânico David Cameron, do primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe, e do chefe do governo australiano Tony Abbott, forma a lista dos participantes mais importantes em Davos.

A presidente brasileira se destaca também num Fórum onde as mulheres compõem apenas um sétimo dos participantes e a predominância masculina tem sido criticada.
Os comentários no Brasil têm salientado que a presidente se aproximará dos grandes patrões internacionais para desfazer equívocos causados por sua alegada distância do empresariado nacional.

Dilma viaja para primeira participação no Fórum de Davos

Mas há mais equívocos a serem desfeitos. O maior deles se refere à discrição da diplomacia brasileira. O problema é crônico desde o fim do governo Lula e da saída do ministro Celso Amorim do Itamaraty.

O ex-chanceler Antônio Patriota desacertou o passo -- com a presidente e com o andamento do mundo -- e acabou saindo do Itamaraty pela porta dos fundos.

Veio em seguida o ministro Luiz Figueiredo, que entra mudo e sai calado, acreditando que o silêncio é prova de vida. Ocupando há quatro meses o cargo de chanceler, sua presença no primeiro escalão do governo continua mal delineada.

Alguns países, como a China, a Coréia do Sul, a Alemanha, a Arábia Saudita, tem um ministro e vice-ministros do exterior. O Brasil não tem tais postos adjuntos, mas o chanceler Figueiredo atua como se fosse um vice-ministro do Exterior. Nesta quarta-feira (22), foi anunciado que ele anulou sua presença na conferência de Genebra 2, sobre a Síria, para ficar dando assistência à presidente em Davos, também na Suíça.

O Brasil será representado pelo secretário-geral do Itamaraty. Ora, Genebra 2 é crucial para a paz na Síria e, de tabela, no Líbano, países como os quais centenas de milhares de brasileiros mantêm vínculos familiares e culturais.

Assim, ao lado dos EUA, Canadá e México, o Brasil faz parte do grupo restrito de países americanos que, ao lado de outros trinta países e organizações, foram convidados pela ONU para participar de Genebra 2. Numa conferência deste calibre -- onde o Brasil tem todo o seu lugar --, quem conta mesmo são os ministros do exterior. Não houve em volta da presidente Dilma ninguém que a alertasse sobre essa evidência.

Como também não houve ninguém que a aconselhasse a incluir uma referencia à política externa na sua fala de fim de ano.

Logo nos primeiros segundos de sua fala, a presidente disse: “As dificuldades que enfrentamos aqui dentro e lá fora não foram capazes de interromper o ciclo positivo que vivemos”. Depois, nos doze minutos que se seguiram, a presidente não fez uma só menção à diplomacia brasileira.

No ano de sua primeira ida à Davos, no ano da Copa, no ano da eleição presidencial, a presidente fala de “lá fora” como se o Brasil vivesse noutra galáxia.