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A crise argentina vista da Europa

29/01/2014 15h52

O agravamento da crise argentina vem sendo seguida com atenção pelos comentaristas europeus e americanos. Como outros jornais europeus, o "Financial Times" sublinha a “confusão” gerada pelas medidas desencontradas do governo de “Cristina Fernández”, como o jornal chama a Kirchner, e cita observadores que constatam um aumento mais forte ainda da inflação na Argentina.

Na Itália a instabilidade financeira argentina tem outras conotações. Ainda traumatizados pelo calote de 2001, que bateu em cheio em 75.000 investidores, muitos deles aposentados e  poupadores relativamente modestos, os italianos observam os acontecimentos na Argentina com perplexidade. O caso desses investidores, compradores de títulos da dívida argentina que não foram reembolsados -, chamados na Itália de “Tango bond”-, ainda está rolando nos tribunais italianos e europeus.

Como é sabido, os italianos formaram o maior contingente imigratório europeu para o Rio da Prata e mantém fortes laços com a Argentina, por isso os acontecimentos recentes são também vistos com ironia e desencanto. "Vamos rir. É como um terrível déjà vu: a Argentina está de novo à beira do abismo”, escreve o "Avvenire", jornal diário católico de Milão.

O tom do jornal econômico britânico "Moneyweek" é mais barra pesada e generalizante: “A crise dos mercados emergentes: chegou a hora de tirar o dinheiro?” Na realidade, o artigo se refere à Argentina, apontada junto com a Venezuela, como o país mais mal gerido da América Latina. Mas o comentarista também pega o Brasil de tabela.

Depois de mencionar as consequências negativas da crise no conjunto do Mercosul, o semanário britânico menciona a possibilidade de o Brasil emprestar parte de suas reservas em divisas à Argentina para limitar a extensão do desastre iniciado em Buenos Aires.

Tal comentário indica que os meios financeiros londrinos esperam uma decisão mais precisa do Brasil sobre o destino da Argentina. 

Guardadas as devidas proporções, a crise argentina coloca o Mercosul no mesmo impasse em que a crise grega enfiou a União Europeia: ou o Brasil ajuda a evitar o colapso financeiro argentino ou o Mercosul vai para o brejo.