Diplomacia do palavrão: a rivalidade entre a União Europeia e os EUA
Pouca gente, além dos diplomatas e dos jornalistas especializados, tinha ouvido falar no nome de Victoria Nuland.
Subsecretária de Estado para a área da Europa e Eurásia, ela prosseguia uma carreira bem sucedida na diplomacia americana, assessorando o Secretário de Estado, John Kerry, desde setembro 2013. Antes ela havia sido a porta-voz de Hillary Clinton no Departamento de Estado.
Seu nome passou para o topo da mídia europeia e americana, na semana passada, depois do vazamento no YouTube de uma de suas conversas com o embaixador americano na Ucrânia.
Referindo-se às atividades dos diplomatas da União Europeia (UE -- ou EU, em inglês) em Kiev, Victoria Nuland sapecou um verbo cru, pouco usado na diplomacia mas muito corrente nos filmes da marginália americana: “Fuck the EU!”.
A conversa e o palavrão Victoria Nuland deixaram escancarada a rivalidade entre os Estados Unidos e a UE.
Atentos à crise em Kiev, que pode facilitar a adesão do país à UE no médio prazo, os europeus evitam confrontar-se à Rússia.
De fato, Moscou tenta evitar a todo preço - Putin concedeu uma ajuda de US$ 15 bilhões à Ucrânia – que o país saia de sua zona de influência para embarcar na UE. Para Putin, a revolta popular em Kiev é uma manobra ocidental para enfraquecer a Rússia. De seu lado, a diplomacia americana joga mais pesado, preparando-se para desencadear sanções econômicas caso o presidente Viktor Yanukovych prossiga com a repressão aos manifestantes pró-UE ucranianos.
Obviamente, a revelação do ataque desbocado da diplomata americana e a acentuação da rivalidade entre a UE e os EUA favorecem o papel de Moscou. Aliás, foram os serviços secretos e os diplomatas russos que gravaram a conversa de Victoria Nuland e a divulgaram no YouTube .
Outro ponto importante: o incidente também pôs a nu as divisões que existem no interior da UE. A reação da Alemanha foi imediata. Angela Merkel disse que a fala de Victoria Nuland era “totalmente inaceitável” e acrescentou que considerava “notável” a atuação de Catherine Ashton – chefe da diplomacia da UE - na crise ucraniana.
Laurent Fabius, o ministro do Exterior da França, foi muito mais conciliador com os americanos, dizendo que não iria perder tempo com assunto.
Em visita oficial aos Estados Unidos, o presidente François Hollande nem mencionou o fato. Interrogado sobre a revelação das escutas telefônicas organizadas na Europa pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) - incidente que irritou e ainda irrita Angela Merkel – Hollande declarou que, para ele, o tema não está mais em pauta. Referindo-se às relações franco-americanas o presidente francês disse que a “confiança mútua foi restaurada”.
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