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Crise na Ucrânia reforça status de Berlim como grande capital diplomática da Europa

07/03/2014 06h00

Desde 2010, quando a Grande Recessão iniciada nos Estados Unidos em 2008 bateu em cheio na Europa, a Alemanha tem se destacado entre os países da zona euro. Menos atingido que seus vizinhos, o país se recuperou e voltou crescer, afirmando sua supremacia na economia europeia. Agora, a crise russo-ucraniana está mostrando que Berlim também é a grande capital diplomática da Europa.

São conhecidas as relações históricas de atração e repulsa que existem entre a Alemanha e a Rússia. Mas no presente também há muitos laços entre os dois países.

Criada e educada na Alemanha Oriental, Angela Merkel aprendeu russo na escola. Vladimir Putin foi chefe do serviço de espionagem russo (KGB) em Dresden e fala fluentemente alemão. Nos últimos dias, os dois tem falado diretamente, sem tradutores, sobre a Ucrânia.

Do lado alemão há cem mil cidadãos e imigrantes, nascidos na ex-Alemanha comunista ou oriundos de outros países do ex-bloco soviético, que falam russo correntemente. Do lado russo, há 6.000 empresas alemãs operando em todos os setores de atividades do país. 

A Alemanha importa um quarto das exportações russas da gás e a Alemanha exporta muito mais produtos para a Rússia, obtendo no ano passado um excedente de 2,1 bilhões de euros no comércio entre os dois países.

Tais circunstâncias explicam a moderação relativa de Angela Merkel na gestão da crise ucraniana e das relações entre a Rússia e os países ocidentais.

De imediato, a UE decretou sanções contra a Rússia, suspendendo as negociações sobre os vistos e ameaçando tomar outras medidas de restrição econômica e comercial. Segundo o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, trata-se de uma estratégia gradual para forçar a Rússia a discutir uma saída pacífica para a situação na Ucrânia e mais particularmente, na Crimeia.

Contudo os observadores duvidam que os países ocidentais venham a praticar contra a Rússia um bloqueio econômico e financeiro similar ao que visou, com bastante sucesso, o Irã. A imobilização de transações bancárias e financeiras com a Rússia prejudicaria vários países europeus, entre os quais estão os principais aliados de Obama. Assim, a City de Londres é o centro financeiro preferido dos milionários, banqueiros e empresários russos.

Mesmo estando mais ao abrigo das consequências negativas de um eventual bloqueio das finanças da Rússia, os Estados Unidos precisam da ajuda de Putin em vários outros contenciosos internacionais.

De fato, se os europeus, os americanos e os russos não se entenderem sobre as guerras civis em curso no Oriente Médio e na Ásia Central, nada irá avançar na Síria, no Afeganistão e no Irã.

Neste contexto, o papel de Angela Merkel e da liderança alemã tornou-se crucial. Como escreve John Cassidy na revista New Yorker, “fiquem de olho em Angela Merkel”.