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Os dois aniversários da Europa

Ciclista passa em frente ao novo trem da Eurostar, durante evento de divulgação no Hyde Park em Londres - Andrew Winning/Reuters
Ciclista passa em frente ao novo trem da Eurostar, durante evento de divulgação no Hyde Park em Londres Imagem: Andrew Winning/Reuters

09/05/2014 14h58Atualizada em 09/05/2014 14h58

Neste mês, a União Europeia (UE) festejou os aniversários de duas transformações que melhoraram a vida no Velho Continente.

A primeira foi a chamada “grande ampliação”, ocorrida no dia 1° de maio 2004, quando o número de países-membros da UE passou de 15 para 25 com a entrada de Chipre, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Eslovênia.

No médio prazo, a grande ampliação complicou o processo decisório e o funcionamento institucional da UE. Mas o ponto essencial é que esses países, seus vizinhos e toda a região ficaram amarrados num quadro de entendimentos e decisões coletivas que vem garantindo à Europa o seu mais longo período de paz desde a Idade Média.

Como havia feito alguns anos antes na transição política que conduziu a Grécia, Portugal e Espanha da ditadura à democracia, a UE ajudou a normalizar as fronteiras, o quadro institucional e a sociedade dos países bálticos e em Polônia, Hungria, República Checa e Eslováquia, fechados durante décadas na zona de influência da ex-URSS. 

O outro aniversário importante foi o 20º aniversário do Eurotúnel e o aniversário do início das ligações ferroviárias diretas entre a Inglaterra e continente sob o canal da Mancha, no dia 6 de maio de 1994.

A rivalidade entre a França e a Inglaterra tem raízes profundas. Grande conhecedor da História da Europa, De Gaulle comentou um dia com um embaixador inglês: “a França e a Inglaterra sempre estiveram em guerra, à exceção dos períodos em que elas se aliaram contra um inimigo comum”.

Os programas de televisão franceses rememoraram a inauguração de 1994, com Thatcher e Mitterrand. Corriam boatos de que os ingleses - no seu multissecular temor de invasões - haviam minado o túnel para explodi-lo em caso de guerra no continente. Era só boato.

Mas a linha do Eurostar, trem-bala que liga Paris e Londres, enfrentou várias ameaças sérias. Questões de segurança sobrecarregaram os custos, e um incêndio em 2008 fechou parcialmente o Eurotúnel durante seis meses.

Agora a maré está bem mais favorável. Em 2013, mais de 10 milhões de passageiros embarcaram no Eurostar e neste ano o número deve ser bem maior por causa da retomada da economia inglesa. Chova ou faça sol, com neve ou sem neblina, o Eurostar leva o passageiro do centro de Londres ao centro de Paris em 2h20.

Milhares de ingleses têm residências secundárias na França e muitos moram permanentemente nas pequenas cidades rurais francesas depois de se aposentarem. Milhares de jovens franceses fazem o percurso na outra direção para irem trabalhar durante a semana em Londres.

Quebrando séculos de isolamento inglês e de desconfiança mútua, o Eurostar aproximou enormemente os franceses e os ingleses.