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O calote da Argentina e a colonização ibérica

01/08/2014 10h57

A nova bancarrota da Argentina ou, numa forma mais amena, o calote parcial que o país deu nos seus credores externos, gerou uma série de considerações na imprensa europeia e americana.

Um gráfico elaborado pela revista "Economist", sob o título “Os Suspeitos Habituais”, com a explicação de que os países latino-americanos são os maiores caloteiros do mundo desde 1800, alimentou polêmicas de fundo histórico entre os leitores do seminário londrino.

Trazendo de volta a discussão sobre os méritos respectivos das potências coloniais modernas, um internauta britânico escreveu: “A Argentina seria uma superpotência hoje se tivesse sido colonizada pela rainha Elizabeth [Elizabeth 1ª, morta em 1603] e pela Inglaterra. Seria os Estados Unidos da América do Sul”.

Outro internauta argumentou que o Egito, o Zimbábue, o Paquistão e o Sudão também foram colônias inglesas e não deram tão certo assim. Sobretudo, o gráfico da "Economist" mistura alhos e bugalhos, juntando países independentes desde o início do século 19 - como os da América Latina, que compunham dois quintos dos países fundadores da ONU em 1945 - com  velhos países europeus ou com novíssimas nações africanas que só ascenderam à independência na segunda metade do século 20.

Ora, as independências dos países latino-americanos, caucionadas por Londres, numa época em que a Inglaterra era a ONU (garantia o reconhecimento diplomático) e os Estados Unidos (a maior potência militar, econômica e bancária do mundo), foram lastreadas em dívidas por vezes herdadas das antigas metrópoles ibéricas.

Monopolizando o sistema financeiro internacional, os banqueiros ingleses concederam a esses países empréstimos extorsivos que redundaram em dívidas impagáveis geradoras de novos empréstimos e novos calotes.

De todo modo, juntando-se à crise na Espanha e Portugal, as dificuldades atuais da América Latina trazem de volta à cena a percepção tradicional anglo-saxônica que apresenta o modelo ibérico e ibero-americano - mistura de catolicismo com burocracia - como um fiasco histórico.