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Conflitos no Missouri põem em xeque ideal pós-racial de Obama

18/08/2014 12h08Atualizada em 18/08/2014 12h08

Domingo (17) à noite, as ruas de Ferguson, subúrbio de Saint Louis, no Missouri, foram de novo o teatro de afrontamentos entre a polícia e manifestantes que protestavam contra a morte de Michael Brown, um jovem afro-americano vítima dos tiros um policial no dia 9 de agosto.  Apesar do toque de recolher decretado há vários dias pelo governador do Missouri, a situação na cidade continua a agravar-se.

Na noite de domingo, as autoridades locais alegaram que a polícia foi alvo de disparos de arma de fogo durante os tumultos em Ferguson. Na circunstância, a repercussão do drama interrompeu a rotina estival de Washington. Criticado por ter saído de férias quando a tensão subia no Missouri, o presidente Barack Obama voltou à Casa Branca para dirigir duas reuniões de emergência sobre o assunto.

Diante das controvérsias sobre as circunstâncias da morte de Michael Brown -, que teria atacado o policial, na versão da prefeitura de Ferguson refutada por outras testemunhas -, o Departamento da Justiça americano ordenou uma nova autópsia da vítima. O fato é bastante raro, e ocorre após a divulgação de uma autópsia solicitada pela família de Brown revelando que sua morte foi causada por seis tiros disparados pelo policial.

Nos últimos dias, os tumultos de Ferguson ganharam dimensão mais ampla com a decisão inédita da Anistia Internacional de enviar uma delegação de 13 especialistas para investigar as causas da morte de Michael Brown.

Estado escravista no século 19 (embora tenha permanecido fiel à União durante a guerra da Secessão), o Missouri tem uma legislação de cancelamento de direitos eleitorais bastante severa que atinge predominantemente jovens delinquentes negros, segundo testemunhos de afroamericanos de Ferguson citados pela revista "New Yorker".

De maneira caricatural, a agência de notícias da China, Xinhua, aproveita a ocasião para relativizar as truculências da ditadura chinesa. Após relatar os incidentes de Ferguson, o editorialista de Xinhua afirma que cada país tem seus “problemas sociais” e que os EUA deveriam resolver os deles, em vez “sempre apontarem o dedo para os outros”.

De maneira mais pertinente, o editorialista do "Washington Post", Chris Cillizza, pondera que o drama de Ferguson põe em questão a ideia de Obama, expressa ao longo de sua carreira política, de imaginar os EUA como um país pós-racial, onde os enfrentamentos raciais fossem coisa do passado.