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O Reino Unido com um pé para fora da União Europeia?

4.set.2014 - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, cumprimenta a chanceler alemã, Angela Merkel, durante cúpula da Otan no Reino Unido - Leon Neal/ AFP
4.set.2014 - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, cumprimenta a chanceler alemã, Angela Merkel, durante cúpula da Otan no Reino Unido Imagem: Leon Neal/ AFP

03/11/2014 15h48Atualizada em 03/11/2014 15h48

As vésperas das eleições legislativas na Espanha, que podem marcar a ascensão do novo partido Podemos, situado à esquerda e parcialmente “soberanista” (anti-UE), e agravar ainda mais as relações entre a Catalunha e Madri, a União Europeia vê um novo foco de tensão surgir no Reino Unido.

Como se sabe, o primeiro-ministro conservador David Cameron anunciou que, caso vença as legislativas de maio de 2015, permanecendo assim no seu posto, realizará em 2017 um referendo sobre a saída do Reino Unido da UE.

No meio tempo, o partido antieuropeu UK Independence Party (UKIP) revelou-se como o maior partido britânico ao eleger, nas legislativas europeias de maio deste ano, 24 dos 73 deputados que representam o Reino Unido no Parlamento Europeu. Sondagens mais recentes indicam que o UKIP pode sair de novo vencedor nas eleições britânicas de 2015.

Tais circunstâncias levaram David Cameron a marcar sua distância das instituições europeias de Bruxelas, acentuando o movimento mais geral denominado “Brexit” ("British exit", ou saída britânica da UE). Desse modo, Cameron anunciou que, em caso de vitória em maio de 2015, irá limitar a imigração dos outros países membros da EU para o Reino Unido.

A integração dos países da Europa Oriental a EU, em 2004, gerou um novo fluxo de migração intraeuropeia, principalmente oriunda da Polônia, em direção ao Reino Unido. Embora muitos britânicos sustentem que esses novos imigrantes dinamizaram a economia, outros tantos pensam que os poloneses agravam o desemprego e saturam os serviços públicos de saúde, educação e alojamentos do Reino Unido.

Encarando o princípio da livre-circulação de seus cidadãos como um dos eixos centrais das instituições europeias, os meios dirigentes e os setores pró-europeus criticaram frontalmente os projetos de David Cameron.

Numa declaração à BBC, o deputado e ex-ministro conservador Kenneth Clarke declarou: “Se nós [da UE] quisermos competir com os americanos e os chineses ..., nós precisamos da livre circulação dos trabalhadores”.

Grande defensora da continuidade da filiação do Reino Unido à UE e dirigente da maior potência econômica da Europa, a chanceler alemã, Angela Merkel, tem mantido um diálogo constante com Cameron para acalmar os ânimos antieuropeus do governo britânico.

Pouco escutada, ela lançou, segundo o semanário alemão "Der Spiegel", uma advertência. Nas palavras de uma alta fonte em Berlim, Angela Merkel considera que a insistência de Cameron em vetar a livre migração intra-EU consistirá "um ponto sem volta" que a levará a não mais insistir para que o Reino Unido permaneça da UE. 

Pai da integração europeia e das negociações que desembocaram na criação do euro, Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995, já havia declarado em dezembro de 2012: “Os britânicos só se interessam por seus interesses econômicos e nada mais. Nós [os membros da EU] poderíamos lhes propor outra forma de parceria”.