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Ataque à Sony atinge a liberdade de expressão, pilar da democracia dos EUA

O ditador norte-coreano Kim Jong-un sorri enquanto uma multidão o rodeia durante visita a uma fábrica têxtil em Pyongyang - KCNA/Reuters
O ditador norte-coreano Kim Jong-un sorri enquanto uma multidão o rodeia durante visita a uma fábrica têxtil em Pyongyang Imagem: KCNA/Reuters

20/12/2014 14h41

A decisão do grupo Sony de suspender a difusão do filme "Entrevista", que faz uma caricatura do ditador norte-coreano Kim Jong-un, provoca reações cada vez mais significativas.

As primeiras declarações de Washington, responsabilizando Kim Jong-un pelo ciberataque que vazou e devastou a estratégia empresarial da Sony, foram meio alusivas. Mas a declaração do presidente Obama na sexta-feira (18) deu outra dimensão ao caso. Excluindo que outro país (a China havia sido apontada como cúmplice dos norte-coreanos) estivesse associada ao ciberataque, Obama foi incisivo ao acusar o regime de Kim Jong-un, afirmando que nenhum "ditador" poderia impor censura nos Estados Unidos.

Realizada no último mês de setembro durante a invasão russa na Ucrânia, a reunião da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) desembocou na implementação de uma "ciberdefesa reforçada" no contexto que precede ou concretiza a ofensiva armada de um país inimigo.

As represálias americanas no caso da Coreia do Norte poderão ser menos graves nos seus prolongamentos militares -- Obama falou de uma "resposta proporcionada" ao regime de Pyongyang -- mas serão difíceis de serem executadas. Em primeiro lugar, o ciberataque pode ter outros autores envolvidos (concorrentes da Sony, ex-empregados da empresa, piratas de todo gênero). Em segundo lugar, mesmo sendo totalmente responsabilizada, a Coreia do Norte beneficia-se de uma situação ambivalente. Apto tecnicamente para realizar esse tipo de ciberataque, o país possui uma infraestrutura econômica primária que o protege de sanções econômicas internacionais.

Em declarações reproduzidas pelo semanário francês "Le Nouvel Observateur", dois especialistas situaram os entraves da reação americana. O primeiro deles declarou: "A Coreia do Norte, tem outra vantagem: ela não tem uma economia de verdade". O mesmo vale para a rede internet do país. O segundo especialista, Tim Stevens, professor no King’s College de Londres, afirmou "suas infraestruturas internet são tão rudimentares que seria difícil causar-lhes danos reais".

De qualquer maneira, o caso está sendo considerado como uma nova etapa na ciberguerra que envolve todo o planeta. Como notou um especialista, ao contrário de outros ciberataques organizados, visando o roubo ou a espionagem industrial e militar, o ataque ao grupo Sony teve como alvo um dos pilares da democracia americana: a liberdade de expressão.