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Muçulmanos europeus serão fundamentais para consolidar islamismo democrático

20/01/2015 06h00

O denso noticiário veiculado nos últimos dias sobre o Islã e os atentados jihadistas na França frequentemente embaciou a compreensão dos acontecimentos. Por isso, é interessante reunir algumas informações pouco divulgadas sobre esses temas.

Em primeiro lugar, a conexão muçulmano=árabe não é tão evidente assim. Somente 20% da população muçulmana mundial vive no Norte da África e no Oriente Médio, onde há também uma importante população árabe cristã. Minoritários entre os fiéis islâmicos, os árabes só tem um país, o Egito, situado entre as seis maiores nações muçulmanas.

Aparecendo em sexto lugar na lista que inclui, nesta ordem, a Indonésia, Índia, Paquistão, Bangladesh e Nigéria, o Egito é também o único destes seis países onde o idioma arábico é a língua oficial.

Vivendo na Ásia, mais de um muçulmano sobre dois se vira para o Ocidente para fazer suas preces diárias em direção à Meca. No total, os seis países citados, que contam com uma maioria de cidadãos muçulmanos, representam apenas 30% da população mundial.

Em segundo lugar, como mostram os dados de um relatório de 2011 do instituto de pesquisas americano Pew Research, a progressão do Islã é mais forte nos países da África negra do que em qualquer outra região do mundo. Com 15% da população global muçulmana em 2010, a África subsaariana terá uma proporção de 17,6% em 2030.

É essencialmente desta região que virá o aumento da porcentagem de fiéis islâmicos no mundo, de 23,4% em 2010 para 26,4% em 2030. No centro das atenções nos últimos dias, o Islã europeu manterá em 2030 a mesma porcentagem atual: 2,7% da população muçulmana mundial. Forte durante os anos 1990-2000, o crescimento da população muçulmana europeia, seguindo o padrão dos não muçulmanos, está em declínio constante no contexto da queda global de natalidade constatada no Velho Continente. 

Porém, o peso relativo da religião islâmica aumentará nos cinco maiores países da Europa ocidental. Na França, a porcentagem de muçulmanos franceses e estrangeiros residentes no país passará de 7,5 em 2010 para 10,3% em 2030, no Reino Unido de 4,6% a 8,2% no mesmo período, na Alemanha de 5% a 7,1% e na Itália de 2,6% para 5,4%.

Mas as estatísticas escondem uma realidade menos polarizada. Apresentados pela Fox News e outras mídias como bastiões da presença muçulmana em Paris, os bairros de Belleville e Ménilmontant têm também --além de muitos muçulmanos-- cristãos, ateus e, sobretudo, uma forte população judaica, com sinagoga, mercearias e açougues de preceito religioso judeu (“kosher”) avizinhando mercearias e açougues muçulmanos (“halal”).

Judeus e muçulmanos praticantes convivem pacificamente na região há décadas (frequento os dois bairros há muito tempo e ali residi nos últimos oito anos).

Como apontam os especialistas, vivendo de permeio a culturas plurinacionais e predominante laicas, os muçulmanos europeus têm, e terão cada vez mais, um papel fundamental na consolidação de um islamismo democrático.