Topo

A Venezuela, a China e os Estados Unidos

Boris Vergara/Xinhua
Imagem: Boris Vergara/Xinhua

09/03/2015 21h00

Nesta segunda-feira (9), o presidente Obama definiu o governo da Venezuela como uma ameaça à segurança nacional americana e decretou sanções contra sete altos funcionários venezuelanos. O decreto presidencial é a primeira etapa de uma política de sanções gradativas contra o governo de Nicolás Maduro, a exemplo do procedimento adotado contra o Irã e a Síria. No caso da Venezuela há, no entanto, dois paradoxos. O primeiro, de natureza econômica, ilustra a complexidade das relações americano-venezuelanas. Assim, as sanções americanas não afetam a indústria petroleira venezuelana.

Cabe lembrar que os Estados Unidos importaram em média 733 mil barrís de petróleo por dia da Venezuela em 2014. Apesar da crise política entre os dois países, a Venezuela ainda é o quarto maior fornecedor de petróleo dos EUA. O outro paradoxo é de natureza diplomática. De fato, com o decreto presidencial (executive order) da segunda-feira, a Venezuela torna-se o adversário principal dos Estados Unidos na América Latina. Configura-se um reposicionamento da política americana no Caribe: Washington se reaproxima de Havana e se afasta mais de Caracas.

Justificando o decreto presidencial, a Casa Branca denunciou as "violações de direitos humanos" perpetradas pelo governo de Nicolás Maduro. Desse modo, os sete funcionários venezuelanos proibidos de viajarem ou fazerem negócios com os Estados Unidos são ligados ao aparato policial da Venezuela.

Mas o contencioso entre os dois países inclui um componente importante que extrapola o continente americano: a China. Cada vez mais densas, as relações entre Pequim e Caracas acentuam o afastamento crescente entre a Venezuela e os EUA.

Uma análise de Chen Jiang, pesquisador do Council on Hemispheric Affairs, organismo independente sediado em Washington, sublinha o avanço da influência chinesa. Desde 2007, a China já emprestou US$ 48 bilhões para a Venezuela. Num esquema clássico de instauração da hegemonia do parceiro mais forte, a maioria desses empréstimos serviu para financiar as importações venezuelanas de equipamentos eletrônicos e ferroviários chineses.

Enquanto a Venezuela exporta petróleo, a China vende tecnologia e equipamentos para o país. Citando o "New York Times", Chen Jiang assinala que há mais de 50 mil chineses residindo na Venezuela. Intensificando suas relações com o governo de Cristina Kirchner, a China torna-se um parceiro chave da Venezuela. Cedo ou tarde, o Brasil e o Mercosul serão confrontados a essa nova realidade geopolítica.