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As eleições inglesas e a social-democracia europeia

David Cameron, primeiro-ministro britânico, discursa em frente à residência oficial, no centro de Londres, em setembro de 2014 - Suzanne Plunkett/Reuters
David Cameron, primeiro-ministro britânico, discursa em frente à residência oficial, no centro de Londres, em setembro de 2014 Imagem: Suzanne Plunkett/Reuters

16/04/2015 11h55

Dia 5 de maio haverá eleições gerais no Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte). Dirigindo o país desde 2010, o líder do partido conservador, David Cameron, tem um destino incerto. As sondagens desta quarta-feira (15) mostram que os conservadores e os seus aliados do partido democrata-liberal não conseguirão formar uma nova maioria, mesmo se aceitarem o apoio do Ukip, o partido eurófobo de extrema-direita.

Ed Miliband, o líder trabalhista, poderá ser o novo primeiro-ministro. Miliband prometeu um governo de esquerda que não tem nada a ver com a gestão favorável ao patronato de Tony Blair, o ex-primeiro ministro trabalhista (1997-2007).

Seu programa prevê o aumento do imposto de renda para 50%, para quem ganha acima de 150 mil libras por ano, restabelecendo o percentual que os conservadores haviam diminuído para 45% em 2012. Conta ainda congelar o preço das passagens dos trens e as tarifas do gás e da eletricidade. Sobretudo, Miliband promete abolir os privilégios fiscais dos residentes não-domiciliados (« nom-doms ») do ponto de vista tributário, que só pagam imposto pelas quantias que faturam ou introduzem no Reino Unido, sem pagar nada pelo que ganham no exterior.

Introduzido em 1799, o privilégio fiscal dos « nom-doms » --único na Europa de hoje-- visava atrair os ricos estrangeiros que fugiam para a Inglaterra durante as guerras napoleônicas na Europa continental. Depois disso, serviu para atrair muitos outros ricos, dos milionários armadores gregos aos bilionários russos. Considerada anacrônica e injusta por muitos ingleses, a situação fiscal dos « nom-doms » acoberta abusos.

De todo o modo, o patronato e os banqueiros ingleses já tremem nas bases com a eventualidade de uma vitória trabalhista. No último dia 10, a libra atingiu o seu nível mais baixo dos últimos cinco anos, com relação ao dólar. Num artigo com o título irônico « François Miliband », a revista "Economist" diz que Ed Miliband deveria tirar lições da presidência de François Hollande, que começou seu mandato botando pressão nos mais ricos e depois, frente à recessão econômica e à fuga de capitais, acabou recuando.

Na "London Review of Books", o sociólogo marxista irlandês Richard Seymour faz uma previsão ainda mais pessimista para a esquerda trabalhista. Para ele, se Miliband perder a eleição, Tony Blair volta com toda a força para reintroduzir uma linha conservadora no Labour (partido trabalhista). Se, ao contrário, Miliband ganhar, as perspectivas não são melhores para a esquerda, visto que o Labour terá que implementar uma política de austeridade. E afundará, do mesmo jeito que o Partido Socialista Francês está afundando sob a direção de François Hollande.

O título do artigo de Seymour também maneja a ironia : « Bye Bye Labour ». Muito mais do que em Atenas, o futuro da esquerda europeia se joga agora em Londres.