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Waterloo: a batalha continua

22/06/2015 14h08

No último dia 15 foi celebrado o bicentenário da batalha de Waterloo, marcando o fim das guerras napoleônicas e a consolidação da hegemonia mundial britânica, deslanchada desde 1805 com a vitória naval de Trafalgar. Além do interesse que a batalha suscita entre estudiosos de táticas militares e amadores de reconstituições históricas, vários jornais europeus analisaram as consequências de longo prazo do evento.

Embora o tema tenha sido um pouco deixado de lado no Brasil e na América Latina, o papel da política napoleônica foi fundamental nestas partes do mundo. Ao invadir a Península ibérica, as tropas francesas e aliadas aprisionaram a família régia espanhola e expulsaram os Bragança para o Brasil, desarticulando o colonialismo espanhol e português. Foi a desestabilização das duas coroas ibéricas que abriu a via para as insurreições independentistas na América Latina.

No contexto da atual crise da União Européia (UE), ameaçada pela saída da Grécia (“Grexit”), e ainda pelo futuro referendo britânico propondo a saída do Reino Unido (“Brexit”), as comemorações de Waterloo têm sido instrumentalizadas por anti-UE e por pró-UE. Num texto da agência Bloomberg, James G. Neuger mostra como a imprensa anti-UE britânica apresenta Waterloo como uma vitória exclusivamente inglesa, ocultando a importância dos outros contingentes europeus --alemães, holandeses e belgas--, que combateram sob o comando de Wellington. Sem contar, é claro, a intervenção do exército prussiano de Blücher, aliado de Wellington, que virou o jogo em Waterloo.

Evocando também Waterloo, o jornal "Le Monde" escreveu, pela primeira vez desde que foi fundado em 1944, um editorial em inglês dirigido aos leitores britânicos. Republicado pelo jornal londrino "The Guardian", o editorial se intitula “Caro Reino Unido, cuidado: o Brexit pode ser o seu Waterloo”. Recapitulando os conflitos anglo-franceses concluídos em Waterloo e a longa aliança entre os dois países nos últimos dois séculos, o jornal parisiense pede “solenemente” que os britânicos não se afastem da União Europeia e termina dizendo: “Como em 1815, o seu futuro está na Europa”.

Num comentário publicado na revista Forbes, Daponte-Smith, um historiador de Yale especializado na política britânica, saúda a iniciativa do "Le Monde". Para ele, as manifestações europeias em favor da permanência do Reino Unido na UE podem ajudar os pró-europeus no futuro referendo britânico. Resta saber se a coalizão pro-UE atravessará incólume a previsível bancarrota da Grécia e os perigosos desdobramentos que podem ocorrer nos países mais vulneráveis da UE, como Portugal, Espanha, Irlanda e Itália.