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Origens políticas da crise do euro

Eric Vidal/Reuters
Imagem: Eric Vidal/Reuters

09/07/2015 20h41

A maioria dos comentários sobre a Grécia focaliza os desequilíbrios econômicos que abalam a zona do euro desde a Grande Recessão. Iniciada em 2007-2008 nos Estados Unidos, a Grande Recessão espalhou-se em muitos países, sem que seus efeitos tenham cessado no território americano. Inédita desde os anos 1930, a dimensão da crise tem um impacto particularmente severo na zona do euro.

Nesse contexto, tornou-se banal sublinhar as disparidades que amarram com a mesma moeda pequenos países, potências industriais (Alemanha e França) e países à beira da bancarrota ou falidos, como a Grécia. Contudo, a UE (União Europeia) e a zona do euro têm uma dimensão essencial: a construção de uma comunidade democrática supranacional. Tal foi o princípio que guiou a adesão da Grécia (1981), de Portugal e da Espanha (1986) à UE, quando os três países reconstruíram instituições políticas abaladas por longas ditaduras.

Tal foi também o caso depois da queda do muro de Berlim e da URSS (1981-1991), quando a Alemanha se reunificou e dez países da Europa Central e Oriental anteriormente submetidos à ditaduras comunistas entraram na UE (2004-2007). A garantia de transição pacífica e de integração desses países a uma grande comunidade democrática foi o principal feito histórico das instituições europeias, plenamente reconhecido em 2012 com a concessão do prêmio Nobel da Paz à UE.

Na realidade, a situação econômica e a contabilidade pública grega inspiraram desconfianças em Bruxelas, sede da UE, tanto em 1981, como em 2001, quando o país entrou na zona do euro (existente desde 1999 nas transações financeiras e a partir de 2002 em moeda corrente). Contudo, os dirigentes europeus defendiam que a Grécia, berço da filosofia e da civilização ocidental, não podia ficar de fora. Fã de futebol, o então presidente francês Giscard d’Estaing, respondeu a um diplomata cético quanto à eficiência da economia grega e à sua capacidade de integração à UE: "Monsieur, não dá para deixar Platão jogar na segunda divisão".

Nos dias de hoje, como mostra um longo e instrutivo estudo publicado pelo semanário alemão Spiegel, o impasse grego continua guardando um aspecto simbólico e geopolítico importante, na medida em que a Grécia ocupa uma posição estratégica no equilíbrio europeu. Assim, narrando a história do euro, do início até a atualidade, o Spiegel conclui: mesmo que a Grécia saia da zona do euro, a UE deverá continuar ajudando o governo de Atenas, porquanto a Europa não pode deixar o país mergulhar no caos.