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China: turbulências na ditadura capitalista

27/07/2015 13h47

As turbulências recentes das bolsas chinesas geraram apreensões mundo afora, evidenciando novamente o enorme peso do país na economia mundial.  Mas a crise serviu também para mostrar o escopo da intervenção estatal no funcionamento da economia chinesa.

Uma reportagem do site chinês de informações econômicas Caixin contou como a agência reguladora de Pequim chamou os principais operadores das Bolsas de Valores de Xangai e Shenzhen (com mais empresas de tecnologia e geralmente comparada à Nasdaq) para uma conversa muito séria. Na manhã do dia 4 de julho, um sábado, em Pequim, na sequência de quedas de mais de 30% nas ações, os 21 principais operadores das Bolsas ouviram calados as ordens dos representantes das autoridades monetárias: na segunda feira seguinte (6), até às 11h da manhã, os ditos operadores deviam depositar 120 bilhões de yuan (US$ 19,3 bilhões) na CSF, uma subsidiária da agência reguladora chinesa.

Paralelamente a ameaças de punição de investidores engajados em vendas “maliciosas” de ações, o governo chinês tomou outras medidas que reforçaram os fundos da CFS, transformando-a numa das maiores investidoras das Bolsas chinesas. A pesada intervenção estatal para estabilizar o mercado acionário foi definida por “Tyler Durden”, o pseudônimo coletivo que serve para vários blogueiros do site Zero Hedge, altamente informado sobre Wall Street, como uma quase-nacionalização das Bolsas chinesas. 

Durante alguns dias, o pesado fogo da artilharia financeira chinesa pareceu surtir efeito. Porém, no final da manhã de hoje (27), quando fecharam as Bolsas chinesas no horário brasileiro, ficou claro que estava tudo desabando de novo. A Bolsa de Xangai fechou em queda de 8,5%, a maior queda diária desde fevereiro de 2007 e o segundo maior tombo de sua história. Concretamente, a evolução dos últimos meses deixa transparecer que as autoridades chinesas estão perdendo a mão --nada invisível-- no controle do mercado acionário.

No meio dessas chacoalhadas, uma emissão da CNN trouxe de novo à baila a melindrosa questão da fiabilidade das estatísticas oficiais chinesas e particularmente de seu PIB. Há duas semanas, o Banco Central chinês “descobriu” que tinha 600 toneladas de ouro suplementares e conseguiu acalmar o mercado por alguns dias. Lembrando este fato, “Tyler Durden” voltou à carga no Zero Hedge, perguntando: quanto ouro o Banco Central da China vai “descobrir” agora?

Ao fim e ao cabo, o que está em jogo é o equilíbrio econômico e político que, em 20 anos, fizeram da China a segunda potência mundial e a maior ditadura capitalista do mundo.