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O Brasil e a nova geopolítica dos oceanos

12/08/2015 14h32

A ampliação e modernização do Canal de Suez, inaugurada no começo deste mês pelo presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sissi, sublinha a preeminência da navegação marítima no comércio globalizado de ontem e de hoje. Construído por Ferdinand de Lesseps e outros investidores franceses entre 1859 e 1869, o Canal de Suez retomava projetos remontando aos primeiros faraós e aos romanos que cogitaram ligar o Mediterrâneo ao oceano Índico.

Quando os primeiros navios cruzaram o canal, em 1869, a imprensa do Rio do Janeiro, um dos portos estratégicos do grande comércio oceânico da época, preocupou-se com as consequências desta nova rota entre Europa e Ásia. Na altura, e mais ainda em 1914, quando foi aberto o Canal do Panamá, o Rio de Janeiro e Santos sofreram o baque causado pela reorientação dos navios e das trocas marítimas, doravante mais concentradas no hemisfério norte. Agora, o mesmo fenômeno deve se acentuar, sem que haja debate no país sobre as transformações das grandes rotas oceânicas.

De fato, no mês de abril de 2016, o Canal do Panamá também inaugura sua nova via ampliada, a qual triplicará as capacidades de transporte de contêineres pelos 80 quilômetros que separam o mar do Caribe do oceano Pacífico. Um pouco mais ao norte, na Nicarágua, um grupo de investidores de Hong Kong formou uma empresa que iniciou a abertura de um canal três vezes mais longo que o do Panamá. Os engenheiros e especialistas do grupo chinês calculam que o novo canal poderá captar 5% do transporte oceânico.

Bem mais ao norte, no oceano Ártico, uma nova rota marítima, tornada acessível por causa do aquecimento global, já liga os portos chineses e Roterdã, o maior porto comercial europeu e quarto maior porto mundial. Conservando 13% das reservas mundiais de petróleo e 30% das reservas de gás natural, com seus mares disputados pelos países circunvizinhos, o Ártico tornou-se mais um foco de tensões internacionais.

No começo deste mês, afirmando sua ambição de se tornar uma grande potência polar, a Rússia reivindicou na ONU a soberania exclusiva sobre 1,2 milhões de quilômetros quadrados no Ártico. O fundamento jurídico do pedido russo é o mesmo avançado pelo Brasil para estender sua soberania para além da zona econômica exclusiva (200 milhas ou 370 km), onde se encontra o pré-sal, para ampliar a superfície da chamada Amazônia Azul.

Isto posto, a demanda russa é bem mais complicada do que a brasileira porque intervém num espaço oceânico cobiçado pelos países limítrofes, ou seja, além da Rússia, Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia, Canadá e Estados Unidos.

Toda essa movimentação deveria suscitar mais atenção no Brasil, país que possui a maior costa atlântica do mundo e no qual o ensino da história marítima é praticamente inexistente.