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A estratégia da China na África

O presidente chinês, Xi Jinping (esq.), cumprimenta o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, em cerimônia da Cúpula de Johanerburgo do Foro de Cooperação sino-africano - Pang Xinglei/Xinhua
O presidente chinês, Xi Jinping (esq.), cumprimenta o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, em cerimônia da Cúpula de Johanerburgo do Foro de Cooperação sino-africano Imagem: Pang Xinglei/Xinhua

29/12/2015 18h09

Comparadas ao expansionismo do Japão, as intervenções militares externas da China, excetuando-se o entorno imediato de suas fronteiras, sempre foram mais contidas. Desse modo, a Grande Muralha e a reduzida marinha de guerra chinesa apareciam complementarmente como os símbolos de um império mais preparado para se defender do que para invadir os outros países. Tal política de retraimento militar no exterior perdurou com altos e baixos até o governo de Deng Xiaoping (1978-1992). Todavia, o envolvimento acelerado de companhias e empresários chineses mundo afora induz o governo de Pequim a preparar ações mais decisivas no estrangeiro, e em particular na África.

Resultado de migrações seculares, a diáspora chinesa conta com 35 milhões de indivíduos vivendo em 151 países e representa a maior soma de migrantes do mundo. Mais concretamente, há um contingente de 1 a 5 milhões de trabalhadores, comerciantes, empresários e técnicos chineses que exercem atividades temporárias no exterior. Tais atividades levam Pequim a organizar progressivamente a proteção de seus cidadãos e de suas empresas ultramarinas. Um acordo com o governo de Djibuti, pequeno país do Chifre da África, permitirá que a China estabeleça sua primeira base naval africana. Principal parceiro comercial da China, a África vê a presença naval chinesa acentuar-se, sobretudo no litoral do Oceano Índico. Atualmente, navios de guerra chineses já estão na região participando de operações internacionais antipirataria na costa da Somália. As intervenções navais chinesas na região inquietam a Índia, a qual está decida a impedir que o Oceano Índico se transforme num "lago chinês", como escreveu a revista Economist numa reportagem bem documentada sobre o assunto. 


No interior do continente africano, a extensão do terrorismo islâmico vitimou cidadãos chineses em vários países do norte da África e do Sahel, região intermediária entre o Saara e a zona tropical africana. No mês de novembro, três chineses, empregados da China Railway Construction, foram mortos num atentado terrorista islâmico perpetrado em Bamako, capital do Mali. Com presença em vários países, a China Railway é notadamente a principal interessada na ligação interoceânica entre o litoral brasileiro e a costa peruana, através da Bolívia. No Mali, num investimento de 1,5 bilhão de dólares, a companhia vai renovar a ferrovia Bamako-Dakar que permitirá a exportação de ferro malinês pelo porto da capital senegalesa. Numa empreitada ainda maior, de 8 bilhões de dólares, outra companhia ferroviária chinesa ligará Bamako ao porto de Conacri, capital da Guiné, exportando mais ferro do território encravado do Mali.


Atualmente, a China dispõe de poucas opções estratégicas. Ao contrário dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França, o governo chinês não deslancha operações militares na África sem o aval do Conselho de Segurança da ONU. Mas é só uma questão de tempo. Cedo ou tarde a China implantará suas bases miliares no interior do continente africano, como acabou de fazer agora no litoral de Djibuti.