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A radicalização da campanha eleitoral americana após a Superterça

Jim Young/Reuters
Imagem: Jim Young/Reuters

04/03/2016 20h16

As significativas vitórias de Hillary Clinton e de Donald Trump em suas respectivas primárias na última terça-feira (1º) levaram a campanha presidencial americana para outro patamar. A primeira constatação interessante, analisada pelo cientista político Corey Robin, diz respeito ao campo democrata. Hillary venceu em sete Estados e Bernie Sanders em quatro. O exame da distribuição de votos mostra que Sanders tem mais apoio entre os eleitores pobres, os independentes e as mulheres mais jovens. Hillary tem vantagem entre os eleitores ganhando mais de US$ 100 mil anuais, entre as mulheres casadas e o eleitorado negro: 80% dos eleitores negros votaram nela dos Estados sulistas.

Ora, a eventual saída de Sanders e a consolidação da candidatura de Hillary Clinton --que aparece sempre com uma candidata do establishment--, levará boa parte do eleitorado popular para o abstencionismo, ou para a candidatura de Donald Trump. De fato, é sabido que Trump, a exemplo de Sanders, também é um candidato anti-establishment. As pesquisas e os votos republicanos nas primárias mostram que ele é majoritário entre o eleitorado branco, mais velhos, pouco escolarizados e avessos às elites, ao politicamente correto e a um tipo de modernidade que não lhes concerne. Mas seu perfil antissistema também atrai simpatias variadas.

Uma reportagem do site online do "The Guardian" traz o testemunho de eleitores dos mais diversos meios sociais e culturais que se decidiram a votar em Trump. Até onde irá o crescimento eleitoral de Trump? Um teste decisivo de sua campanha, e das primárias republicanas, acontecerá no dia 15 de março, quanto terão lugar as primárias na Flórida, Estado onde o vencedor leva a totalidade dos votos dos 2472 representantes republicanos. Ali ele enfrentará o senador do Estado, Marco Rúbio. Se perder, Trump perde o pique de sua sequência de vitórias e terá sua candidatura comprometida da Convenção de Cleveland, que escolherá o candidato republicano à Casa Branca.

No meio tempo, a candidatura de Hillary reúne cada vez mais apoios entre o eleitorado moderado republicano, enquanto Trump assusta muita gente dentro e fora dos Estados Unidos. Uma boa ilustração disso foi a coluna recente de Martin Wolf na "Folha de S. Paulo". Nela, Wolf, que é talvez o mais influente editorialista econômico do mundo, ataca Trump diretamente, num dos textos mais duros que escreveu na sua carreira de comentarista chefe de Economia do "Financial Times".