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Presidente da Turquia oprime e insulta, mas potências não ousam se opor a ele

Kayhan Ozer/Presidential Press Service, Pool Photo via AP
Imagem: Kayhan Ozer/Presidential Press Service, Pool Photo via AP

25/05/2017 15h44

Há duas semanas, um incidente inusitado teve lugar nos jardins adjacentes à Casa Branca. Homens vestidos de preto e engravatados partiram para cima de um grupo que manifestava pacificamente contra a visita oficial do presidente turco, Recep Erdogan. Jovens, velhos, homens e mulheres foram esmurrados, derrubados e alguns deles chutados no chão, diante de policiais americanos que tentavam barrar as truculências dos agressores, membros do serviço de segurança do presidente turco.

O site do USNews publicou reportagem indicando que a ordem de ataque havia sido dada poucos minutos antes pelo próprio Erdogan. O presidente turco já se ilustrara semanas antes na grosseria com nações e governantes europeus. Assim, no começo de março, quando municípios alemães proibiram comícios eleitorais turcos sobre o referendo que acabou reforçando seus poderes presidenciais, Erdogan acusou as autoridades alemãs de se comportarem “como os nazistas”. Poucos dias depois, diante de uma proibição similar na Holanda, Erdogan chamou as autoridades holandesas de “fascistas”. 

Truculento em Washington e nas suas relações com os dirigentes europeus, Erdogan tem uma atitude muito mais brutal em seu país. Como tem sido observado, o presidente turco enveredou num autoritarismo crescente, desde a tentativa de golpe de que foi vítima, em julho do ano passado.

Mais de 110 mil pessoas foram detidas ou demitidas de seus cargos públicos após o golpe e metade delas foram condenadas e presas. Entre os presos, estão incluídos 168 generais, 151 jornalistas, 2.575 procuradores e juízes. Além disso, o governo fechou 179 jornais e sites noticiosos e demitiu 484 professores universitários. Órgãos da ONU e associações de direitos humanos têm protestado contra a repressão na Turquia, onde a internet é censurada e o acesso à Wikipedia proibido.

Na realidade, Erdogan acelerou a virada autoritária por dois motivos. Em primeiro lugar, ele tem o apoio de boa parte da população, com exceção dos habitantes de Istambul e das grandes cidades, como ficou provado na sua vitória no referendo do mês de abril.

Em segundo lugar, a Turquia tem uma posição estratégica numa região conturbada. Os Estados Unidos armaram a Turquia até os dentes para barrar os soviéticos e depois os russos. A tal ponto que as forças armadas turcas ocupam o segundo lugar na Otan, depois dos americanos. De seu lado, a Rússia espera explorar em seu favor as dissensões entre Erdogan e os ocidentais, atraindo a Turquia para sua zona de influência.

Enfim, a União Europeia não pode romper as pontes com a Turquia, que guarda influência sobre centenas de milhares de imigrantes turcos vivendo nos países europeus e é, desde sempre, a grande potência da Eurásia. Em outras palavras, Erdogan pode prender e arrebentar a oposição turca, oprimir ainda mais os curdos e insultar as democracias ocidentais. Nenhuma grande potência, nem os Estados Unidos, nem a Rússia, nem a União Europeia, ousa se opor frontalmente a ele.