As eleições alemãs e a Europa
No sábado passado (12), começou a campanha das legislativas federais alemãs. As eleições terão lugar em 24 de setembro. Angela Merkel se reapresenta como candidata à chefia do governo, na liderança do partido democrata cristão (CDU). Segundo as sondagens publicadas nesta semana, o CDU tem uma vantagem de 12 pontos percentuais sobre o Partido Social-Democrata (SPD) conduzido por Martin Schultz. Tudo indica que Angela Merkel obterá em setembro um novo mandato de quatro anos.
Com a economia do país crescendo regularmente há vários anos, o índice de satisfação dos alemães com sua situação econômica atingiu o ponto mais alto dos últimos vinte anos. No contingente dos seis países que possuem o maior PIB da União Europeia (Reino Unido, França, Itália, Espanha e Holanda), a Alemanha se apresenta como o país que possui menos disparidades sociais.
No entanto, as sondagens demonstram que o eleitorado se preocupa bastante com um outro tema: o problema imigratório. A Alemanha se tornou nos últimos anos um país de imigrantes. O pico ocorreu em 2015, quando o país recebeu 1,5 milhão de imigrantes de todas as nacionalidades, bem na frente do Reino Unido (631 000) e da França (342 000).
Dos grandes países europeus, a Áustria e a Alemanha são os que possuem o maior número relativo de imigrantes, ou seja, 19 imigrantes em cada 100 habitantes. O que corresponderia a 39 milhões imigrantes vivendo no Brasil (havia em 2015 um total de 1,8 milhão de imigrantes no solo brasileiro).
Durante muito tempo, se disse e se escreveu que os grandes atentados terroristas ocorridos na França e na Inglaterra tinham relação com o passado histórico, com o fato de os dois países terem colonizado vastos territórios e populações africanas e asiáticas.
Nesta perspectiva, a Alemanha estaria mais ao abrigo de atentados similares. Porém, em 2015 e 2016, a Alemanha foi o teatro de uma série de atos terroristas que culminaram com a morte de 12 pessoas atingidas por um caminhão numa feira natalina de Berlim, no final de 2016.
Neste contexto, a ascensão do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), detectada nas últimas sondagens eleitorais, representa um dado novo e preocupante no cenário político. Atualmente, o AfD tem 10% das preferências de votos. Parece pouco. Mas se o AfD ultrapassar o partido liberal pró-mercado FDP e o Partido de Esquerda (Die Linke), posicionando-se como o terceiro partido mais importante do Parlamento, o quadro político partidário alemão será fortemente alterado.
Tendo vencido as três últimas eleições federais (em 2005, 2009 e 2013), Angela Merkel está habilitada, caso se confirmem as sondagens, a completar em 2021 dezesseis anos seguidos na chefia do governo da Alemanha. Nenhum outro político democraticamente eleito igualou até agora o recorde que poderá ser alcançado por Merkel.
Nascida em 1954, quando o Acordo de Paris reconheceu a plena soberania da Alemanha Ocidental e sua equipe de futebol foi campeã mundial, oferecendo um motivo legítimo e pacífico de orgulho ao país arrasado na guerra, Merkel governou a Alemanha reunificada. Neste seu próximo mandato lhe restará consolidar o novo povo alemão, aumentado e diversificado pelos povos e culturas que entram maciçamente em suas fronteiras.
A Alemanha marcou o século XX com guerras de agressão, massacres e exclusão. No século XXI poderá ser o país da integração democrática. Angela Merkel será então a maior estadista alemã.
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