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Lançamento do iPhone 5 é capaz de reanimar a economia norte-americana

O lançamento oficial do iPhone 5 acontece no dia 21 de setembro, nos Estados Unidos e em mais seis países - BBC Brasil
O lançamento oficial do iPhone 5 acontece no dia 21 de setembro, nos Estados Unidos e em mais seis países Imagem: BBC Brasil

Paul Krugman

15/09/2012 00h01

Por acaso você é, ou conhece alguém que seja, um louco por gadgets? Se sim, você com certeza sabe que na última quarta-feira (12) foi o dia do iPhone 5, o dia em que a Apple revelou a mais nova maneira para que as pessoas evitem falar e até mesmo olhar para quem está com elas.

Então será que este telefone é absurdamente bom como diz a Apple? Ei, vou deixar coisas desse tipo para David Pogue. O meu interesse é pela expansão que lançamento do iPhone 5 pode fornecer à economia dos EUA no próximo trimestre ou semestre.

Você acha isso plausível? Se sim, tenho uma notícias: você, querendo ou não, é um keynesiano - e implicitamente aceitou a ideia de que o governo deveria gastar mais, e não menos, numa economia deprimida.

Antes de eu chegar lá, vamos falar sobre de onde vem todo esse burburinho.

Uma recente pesquisa do JPMorgan argumentou que o novo iPhone pode acrescentar até meio ponto percentual ao crescimento do PIB no último trimestre de 2012. Como assim? Primeiro, o relatório apontou que a Apple provavelmente venderia muitos telefones em pouco tempo. Em segundo lugar, ele observava que embora os iPhones sejam fabricados no exterior, a maior parte do preço que você paga quando compra um é do valor agregado nos EUA - atacado e varejo, propaganda e lucros - tudo isso conta como parte do PIB.

Por fim, a pesquisa fazia algumas apostas plausíveis sobre o preço de cada telefone e os números de telefones vendidos, e usava esses números para fazer uma estimativa do impacto sobre o PIB. É tudo bastante honesto. Mas as implicações são muito mais amplas do que a maioria das pessoas imagina.

O essencial é entender que esses prováveis benefícios do novo telefone a curto prazo não têm quase nada a ver com o fato de ele ser bom ou não - com o quando ele melhora a qualidade de vida dos compradores ou a sua produtividade. Esses efeitos só ocorrerão no longo prazo. Em vez disso, JPMorgan diz que o iPhone 5 expandirá a economia logo de cara porque ele induzirá as pessoas a gastarem mais.

E para acreditar que mais gastos fornecerão uma expansão econômica, você precisa acreditar - como deveria - que a demanda, e não a oferta, é o que está segurando a economia. Não temos um desemprego alto porque os norte-americanos não querem trabalhar, e não temos desemprego alto porque os trabalhadores não têm capacitação. Em vez disso, trabalhadores dispostos e capazes não conseguem arranjar empregos porque os empregadores não conseguem vender o suficiente para justificar a sua contratação. E a solução é encontrar alguma forma de aumentar os gastos gerais para que o país possa voltar a trabalhar.

Então de onde vem a maior parte dos gastos? As empresas estão sentadas sobre montes de dinheiro, mas na maior parte, não veem muitos motivos para fazer investimentos. Por que expandir sua capacidade quando você não tem vendas suficientes para fazer uso total da capacidade que você já tem? E como as empresas não estão gastando muito, os salários estão baixos, portanto a demanda do consumidor está baixa, o que perpetua a queda nas vendas.

Entretanto, as depressões terminam, eventualmente, mesmo sem políticas do governo para retirar a economia desta armadilha. Por quê? Há muito tempo, John Maynard Keynes sugeriu que a resposta era "uso, desgaste e obsolescência": mesmo numa economia deprimida, em algum ponto as empresas começarão a substituir equipamentos, quer seja porque as coisas ficaram velhas ou porque coisas muito melhores surgiram; e uma vez que começarem a fazer isso, a economia se reanima. É o que a Apple está fazendo. Ela está provocando a obsolescência. Bom.

Mas por que sofrer anos de depressão e desemprego alto enquanto esperamos por uma obsolescência suficiente se acumular? Por que não fazer o governo entrar na história e gastar mais, digamos, em educação e infraestrutura, para ajudar a economia durante este período difícil? Não diga que o governo não pode aumentar o gasto total ou que o gasto do governo não é capaz de criar empregos. Se você acredita que o iPhone 5 pode erguer a economia, você já concordou tanto que a quantidade total de gastos na economia não é um número fixo como que mais gasto é o que precisamos. E não há motivo para que estes gastos tenham que ser privados.

Mas longe de usar gasto público para sustentar a economia numa época problemática, nosso sistema político - motivado por uma combinação de ideologia, temores exagerados de déficit e obstrucionismo republicano - moveu-se de forma a tornar a depressão pior. Sim, benefícios de desemprego e auxílio à alimentação ainda existem, porque há muitas pessoas necessitadas; mas o emprego no governo caiu vertiginosamente, assim como o investimento público.

Agora, apesar de tudo isso, eventualmente vamos nos recuperar. Com o tempo haverá mais equipamentos que precisarão ser substituídos, mais inovações ao estilo do iPhone que expandem os gastos, e, a longo prazo, sairemos desta armadilha econômica. Mas, como Keynes notoriamente apontou em outro contexto, a longo prazo todos nós estaremos mortos. Para emprestar uma frase minha, por que não acabar com esta depressão agora?