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Rube Goldberg sobreviveu e o Obamacare venceu

05/04/2014 00h01

Santos sete milhões, Batman! A Lei de Acesso à Saúde, ou Obamacare, teve uma recuperação incrível depois de seu início capenga.

Conforme se aproximava o prazo de 31 de março para a cobertura em 2014, houve um surto de inscrições nas “bolsas” - mercados especiais de seguros criados pela lei.

E a meta original de sete milhões de assinaturas, amplamente considerada inatingível, foi ultrapassada.

Mas o que isso significa? Depende de se você pergunta aos adversários ou aos defensores da lei.

Veja, os adversários acham que significa muito, enquanto os defensores da lei estão sendo muito cautelosos. E neste caso os inimigos da reforma da saúde estão certos. É um negócio realmente muito grande.

É claro que não encontramos muitos adversários do Obamacare admitindo francamente que 7,1 milhões de assinaturas (que continuam aumentando) são uma enorme vitória da reforma.

Mas suas reações aos resultados – “É uma fraude!” ou “Estão cozinhando os números!” - contam a história.

O pensamento conservador e a estratégia política republicana se basearam totalmente na suposição de que seria sempre outubro, que o lançamento do Obamacare seria uma história de constantes desastres.

Eles não têm ideia do que fazer agora que está se transformando em uma história de sucesso.

Então por que muitos apoiadores da reforma estão sendo cautelosos, dizendo-nos que não devemos ler muito os números?

Bem, em um nível técnico eles estão certos: o número exato de assinaturas não importa muito para o funcionamento da lei, e ainda podem haver muitos problemas apesar do aumento em março. Mas eu diria que eles não estão vendo a floresta, só as árvores.

A coisa crucial a se compreender sobre a Lei de Acesso à Saúde é que é um dispositivo Rube Goldberg - uma maneira complexa de fazer uma coisa inerentemente simples.

O maior risco para a reforma sempre foi que o esquema naufragasse por sua complexidade. E agora sabemos que isso não vai acontecer.

Lembrem-se, dar seguro-saúde a todo mundo não precisa ser difícil; pode-se fazê-lo com um programa dirigido pelo governo.

Não apenas muitos outros países avançados têm seguro-saúde fornecido pelo governo como “ator único”, como nós mesmos temos um desses programas - o Medicare - para os americanos idosos. Se fosse politicamente possível, estender o Medicare a todos teria sido tecnicamente fácil.

Mas não foi politicamente possível, por alguns motivos. Um deles foi o poder da indústria de seguros, que não poderia ser tirada do jogo se se quisesse a reforma da saúde nesta década.

Outro foi o fato de que 170 milhões de americanos que têm seguro-saúde por meio dos empregadores estão em geral satisfeitos com sua cobertura, e qualquer plano para substituir essa cobertura por algo novo e desconhecido não seria aceito.

Por isso, a reforma da saúde tinha de ser conduzida principalmente pelas seguradoras privadas e ser um acréscimo ao sistema existente, em vez de uma substituição total. E, em consequência, tinha de ser um tanto complexo.

Agora, a complexidade não deve ser exagerada. O básico da reforma leva apenas alguns minutos para explicar. E tem de ser tão complicado quanto é.

Há um motivo pelo qual os republicanos continuam falhando em sua promessa de propor uma alternativa à Lei de Acesso à Saúde: todos os elementos principais do Obamacare, incluindo os subsídios e o muito atacado “mandato individual” (a obrigação pessoal de comprar um seguro), são essenciais se você quiser cobrir os que não têm seguro.

No entanto, o governo Obama criou um sistema em que as pessoas não recebem simplesmente uma carta do governo federal dizendo “Parabéns, agora você está coberto!”.

Não! Elas precisam entrar online ou fazer um telefonema e escolher entre diversas opções, em que o custo do seguro depende de um cálculo que inclui diversos subsídios, etc.

É um sistema em que muitas coisas podem dar errado; o cenário de pesadelo sempre foi que os conservadores aproveitariam os problemas técnicos para desacreditar a reforma da saúde como um todo. E no último outono esse pesadelo pareceu se tornar realidade.

Mas o pesadelo terminou. Há muito tempo está claro, para qualquer pessoa que deseje estudar o caso, que a estrutura geral do Obamacare faz sentido diante das restrições políticas. Agora sabemos que os detalhes técnicos também podem ser administrados. A coisa vai funcionar.

E, sim, também é uma grande vitória política para os democratas. Eles podem mostrar um sistema que já fornece ajuda vital para milhões de americanos, e os republicanos - que planejavam competir contra um fracasso - não têm nada a oferecer em resposta.

E estou dizendo nada. Até agora, nenhuma das supostas histórias de horror do Obamacare apresentadas em anúncios de ataque suportou um escrutínio.

Por isso, meu conselho aos defensores da reforma é: vão em frente e comemorem.

Ah, e sintam-se à vontade para ridicularizar os direitistas que confiantemente previram a derrota.

É claro que há muito trabalho pela frente, e podemos contar com a mídia noticiosa para exagerar qualquer escorregão como se fosse um desastre existencial. Mas Rube Goldberg sobreviveu; a reforma da saúde venceu.