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O grande teste verde

Paul Krugman

24/06/2014 00h01

No domingo, Henry Paulson, o ex-secretário do Tesouro e republicano de longa data, foi autor de um artigo de opinião sobre política climática no "The New York Times". No artigo, ele declarou que a mudança climática causada pelo homem é "o desafio de nosso tempo", e pediu por um imposto nacional sobre as emissões de carbono para encorajar a conservação e a adoção de tecnologias verdes. Considerando o atual clima de negação predominante no Partido Republicano, além da oposição absoluta a qualquer tipo de aumento de imposto, foi uma posição corajosa de se tomar.

Mas não corajosa o bastante. Impostos sobre emissões são a solução básica para os problemas de poluição; todo economista que conheço começaria a aplaudir entusiasticamente se o Congresso aprovasse um imposto geral sobre o carbono. Mas isso não vai acontecer no futuro previsível. Um imposto sobre o carbono seria a melhor coisa que poderíamos fazer, mas não faremos.


Porém, há uma série de segundas melhores opções (no sentido técnico, como explicarei mais adiante) que estamos fazendo ou poderemos fazer em breve. E a questão para Paulson e outros conservadores que se consideram ambientalistas é se estariam dispostos a aceitá-las caso fossem implantadas pelo outro partido. Se não estiverem, o suposto ambientalismo deles é um gesto vazio.

Permita-me dar alguns exemplos do que estou falando.

Primeiro, considere regras como os padrões de consumo de combustível, ou a obrigatoriedade das companhias elétricas comprarem a eletricidade gerada pelos painéis solares residenciais. Qualquer estudante de economia pode dizer que essas regras são ineficientes em comparação aos incentivos proporcionados por um imposto sobre emissões. Mas nós não temos um imposto sobre emissões, e os padrões de consumo de combustíveis e a compra de eletricidade residencial reduzem as emissões de gases do efeito estufa.

Então a pergunta aos conservadores ambientalistas é: você apoia a manutenção dessas obrigatoriedades ou está do lado dos grupos empresariais (encabeçados pelos irmãos Koch) que fazem campanha para eliminá-las e impor taxas sobre a instalação de painéis solares residenciais?

Segundo, considere o apoio do governo a energia limpa por meio de subsídios e garantias de empréstimos. De novo, se tivéssemos um imposto apropriado sobre emissões, esse apoio não seria necessário (mesmo assim poder-se-ia argumentar a favor da promoção do investimento, mas deixa para lá). Mas não temos esse imposto. Então a pergunta é: você aceita coisas como garantias de empréstimo para painéis solares, mesmo ciente de que alguns empréstimos terminarão mal, como aconteceu com a Solyndra?

Finalmente, e quanto à proposta da Agência de Proteção Ambiental de usar sua autoridade reguladora para impor maiores reduções de emissões às usinas elétricas? A agência está disposta a buscar soluções de mercado até onde for possível --basicamente ao impor limites às emissões aos Estados, encorajando ao mesmo tempo Estados ou grupos de Estados a criarem sistemas de limitação e comércio de carbono que, na prática, estabeleceriam um preço ao carbono. Todavia, essa seria uma abordagem parcial, que trata apenas de uma fonte de emissões de gases do efeito estufa. Você estaria disposto a apoiar essa abordagem parcial?

A propósito: os leitores versados em economia reconhecerão que falo do que é tecnicamente conhecido como "teoria da segunda melhor opção". Segundo essa teoria, distorções em um mercado --neste caso, a fato de que há grandes custos sociais causados pelas emissões de carbono, mas indivíduos e empresas não pagam um preço pela emissão de carbono-- podem justificar a intervenção do governo em outros mercados relacionados. Os argumentos de segunda melhor opção têm uma reputação dúbia na economia, porque a política certa é sempre eliminar a distorção principal, se possível. Mas às vezes não é, e esta é uma dessas ocasiões.

O que me leva de volta a Paulson. Em seu artigo de opinião, ele compara a crise climática à crise financeira que ele ajudou a enfrentar em 2008. Infelizmente, essa não é uma analogia muito boa: na crise financeira, ele podia argumentar que o desastre estava a apenas poucos dias de distância, enquanto a catástrofe climática se desdobrará ao longo de muitas décadas.

Então permita-me sugerir uma analogia diferente, uma que ele provavelmente não vai gostar. Em termos de políticas, a ação climática --se vier a acontecer-- provavelmente seria parecida com a reforma da saúde. Isto é, seria uma harmonização desajeitada ditada em parte pela necessidade de apaziguar interesses especiais, não a solução limpa e simples que seria adotada se você pudesse começar as coisas da estaca zero. Ela estaria sujeita a intenso partidarismo, dependendo excessivamente do apoio de um único partido, e estaria sujeita a constantes ataques histéricos. Mas mesmo assim, se tivermos sorte, faria o trabalho.

Eu mencionei que a reforma da saúde está claramente funcionando, apesar de suas falhas?

A pergunta para Paulson e para aqueles com pontos de vista semelhantes é se estão dispostos a apoiar esse tipo de imperfeição. Se estiverem, bem-vindos a bordo.