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Demanda agregada, oferta agregada e o que achamos saber

Paul Krugman

15/07/2014 00h01

Brad DeLong citou Chris House me repreendendo por não "confessar" o fracasso enigmático do surgimento da deflação, apesar de anos de depressão, e está perplexo –porque, na verdade, eu reconheci o enigma repetidas vezes e falei bastante a respeito.

Parte disso se deve novamente a House buscar desesperadamente uma falsa equivalência; ele começa com a proposição de que todo mundo deve ser igualmente culpado, portanto, eu devo não estar disposto a reconhecer previsões erradas assim como os tipos da teoria do equilíbrio de macroeconomia –sem necessidade de checar o que de fato escrevi. (Eu ainda estou esperando por exemplos de coisas que eu disse que sejam tão insanas como a insistência de Prescott de que não há evidência de que política monetária importe.)

Mas vamos deixar essas coisas de lado; há algo que preciso dizer sobre o que um keynesiano (ou se preferir, um hicksiano –não vamos entrar na questão de ‘O que Keynes Realmente Quis Dizer’) acha que sabe.

Da forma como vejo, nós temos uma proposição geral –a maioria das recessões resulta de demanda inadequada. E nós temos um modelo muito bom de demanda agregada, e de como a política monetária e fiscal afetam a demanda. Esse modelo é o IS-LM (Investment Saving – Liquidity Money; investimento em poupança –expansão monetária), com dinheiro endógeno apropriado. É possível, para alguns propósitos, pensar de forma útil na curva do IS como derivada da otimização intertemporal, mas isso é uma metáfora, não um princípio.

Nós não temos um modelo igualmente bom para oferta agregada. O que temos, em vez disso, é uma observação: preços e salários claramente ficam atrelados em curto prazo, e talvez por mais tempo que isso. Há muita evidência apoiando essa proposição, mas ao tentar justificá-la, nós precisamos de vários tipos de malabarismos sobre custos de ajustamento de preços e racionalidade limitada.

O fato é que, para muitos fins, essa noção ligeiramente vaga de oferta agregada basta; nós podemos, por exemplo, ter uma certeza razoável de que as políticas expansionistas em uma economia deprimida não seriam inflacionárias, e podemos usar o bom modelo do lado da demanda para nos dizer que a expansão monetária não funcionará, mas que a política fiscal irá quando estamos em uma taxa de juro zero.

Mesmo assim, nós tentamos. Os neokeynesianos fazem coisas como estabelecimento prévio de preços ou preços rígidos segundo o modelo de Calvo, no qual os preços são revistos aleatoriamente. Os keynesianos praticantes tendem a empregar as curvas de Phillips "aceleracionistas", nas quais o desemprego determina a taxa de mudança, em vez do nível da inflação.

Logo, o que aconteceu desde 2008 é que ambas as abordagens deixaram a desejar: a inflação caiu, mas permaneceu positiva, apesar do desemprego elevado. O que os dados mostram na verdade parece com uma curva de Phillips sem expectativas há moda antiga. E há duas histórias populares sobre o motivo: rigidez salarial descendente mesmo em longo prazo, expectativas ancoradas.

O fato é que o lado do estabelecimento de preços dos modelos nunca foi uma parte integral da doutrina keynesiana, e a resistência surpreendente da inflação não minou os entendimentos centrais.

E permanece verdadeiro que os keynesianos se mostraram altamente corretos sobre os efeitos da política monetária e fiscal, enquanto os macros da teoria do equilíbrio erraram a respeito de tudo.