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Opinião: vitória republicana nas eleições dos EUA representa o triunfo do errado

5.nov.2014 - Defensores republicanos comemoram resultados das eleições de meio mandato em Topeka, Cansas, nos Estados Unidos - Mark Kauzlarich/ Reuters
5.nov.2014 - Defensores republicanos comemoram resultados das eleições de meio mandato em Topeka, Cansas, nos Estados Unidos Imagem: Mark Kauzlarich/ Reuters

Paul Krugman

08/11/2014 00h01

A corrida não é para os rápidos, a batalha não é para os fortes, nem o pão para os sábios, muito menos as eleições de meio de mandato para os homens de entendimento. Ou como coloquei às vésperas de outra grande vitória do Partido Republicano, a política determina quem tem o poder, não quem está com a verdade. Mesmo assim, não é com frequência que um partido tão errado a respeito de tanta coisa se sai tão bem quanto os republicanos na terça-feira.

Eu vou falar um pouco sobre alguns dos motivos que podem ter ocorrido. Mas é importante, primeiro, apontar que os resultados da eleição de meio de mandato não são motivo para ver com melhores olhos a posição republicana a respeito de questões importantes. Eu suspeito que alguns comentaristas mudarão sua análise para refletir o novo equilíbrio de poder --por exemplo, ao novamente fingirem que as propostas orçamentárias do deputado Paul Ryan são tentativas de boa fé de colocar a casa fiscal dos Estados Unidos em ordem, em vez de exercícios de logro e conversa fiada. Mas as políticas propostas pelos republicanos merecem uma maior análise crítica, e não menor, agora que o partido pode impor sua agenda.

Logo, este é um bom momento para lembrar quão errados os novos governantes do Congresso têm sido a respeito de, bem, tudo.

Primeiro, há a política econômica. Segundo o dogma conservador, que condena qualquer regulação da busca sagrada do lucro, a crise financeira de 2008 –provocada por instituições financeiras desreguladas– nunca deveria ter sido possível. Mas os republicanos optaram por não repensar seus pontos de vista nem mesmo um pouco. Eles inventaram uma história imaginária na qual o governo foi de alguma forma responsável pela irresponsabilidade dos credores privados, além de ao mesmo tempo combaterem qualquer política que pudesse limitar os estragos. Em 2009, quando a economia enferma precisava desesperadamente de ajuda, John Boehner, que logo se tornaria o presidente da Câmara, declarou: "É hora do governo apertar o cinto".


Assim, aqui estamos, com anos de experiência para examinar, e as lições dessa experiência não poderiam ser mais claras. As previsões de que os gastos deficitários levariam a uma alta dos juros, que a grande liquidez levaria a inflação descontrolada e depreciação do dólar, provaram estar erradas repetidas vezes.

Os governos que fizeram o que Boehner pediu, cortando gastos diante de economias deprimidas, se viram com recessões econômicas do nível de depressão. E as tentativas dos governadores republicanos de provar que a redução de impostos sobre os ricos é um elixir mágico de crescimento fracassaram espetacularmente.

Resumindo, a história da economia conservadora nos últimos seis anos foi uma de desastre intelectual –agravada pela notável inabilidade de muitos na direita de reconhecer o erro sob quaisquer circunstâncias.

E há a reforma da saúde, onde os republicanos foram muito claros sobre o que aconteceria: inscrições mínimas, mais pessoas perdendo seguro do que ganhando, alta dos custos. A realidade, até o momento, tem discordado, apresentando inscrições acima do previsto, uma queda acentuada do número de americanos sem plano de saúde, preços bem abaixo das expectativas e uma desaceleração acentuada dos gastos gerais em saúde.

E não devemos nos esquecer do erro mais importante de todos, sobre a mudança climática. Até o final de 2008, alguns republicanos estavam dispostos a admitir que o problema era real e até mesmo defendiam políticas sérias para limitar as emissões –o senador John McCain propôs um sistema de limitação e comércio semelhante às propostas democratas. Mas atualmente o partido é dominado por pessoas que negam a mudança climática e por teóricos de conspiração, que insistem que toda a questão é uma farsa elaborada por uma cabala de cientistas de esquerda. Agora essas pessoas estarão em posição de bloquear a ação por muitos anos, possivelmente nos conduzindo além do ponto sem retorno.

Mas se os republicanos estão completamente errados sobre tudo, por que os eleitores lhes deram uma vitória tão grande?

Parte da resposta é que os principais republicanos conseguiram mascarar suas verdadeiras posições. Talvez mais notavelmente, o senador Mitch McConnell, o futuro líder da maioria, conseguiu transmitir a impressão completamente falsa de que Kentucky conseguiria manter seus ganhos impressionantes na cobertura de saúde mesmo se a reforma da saúde de Obama fosse revertida.

Mas o maior segredo do triunfo republicano certamente está na descoberta de que a obstrução, beirando a sabotagem, é uma estratégia política vencedora. Desde o primeiro dia do governo Obama, McConnell e seus colegas fizeram tudo o que puderam para minar a eficácia das políticas, em particular bloqueando todos os esforços para fazer o óbvio –estimular gastos em infraestrutura– em um momento de taxas de juros baixas e desemprego elevado.

Isso foi muito ruim para os Estados Unidos, mas bom para os republicanos. Muitos eleitores não sabem muito sobre políticas, nem entendem o processo legislativo. Só o que viram foi que o homem na Casa Branca não estava proporcionando prosperidade –e puniram o partido dele.

As coisas mudarão agora que o Partido Republicano não pode escapar tão facilmente da responsabilidade? Veremos.