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Poluição e política

29/11/2014 00h01

No início desta semana, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) anunciou as regulações propostas para coibir as emissões de ozônio, que causam o "smog" (o nevoeiro contaminado por fumaça), sem contar asma, doenças cardíacas e morte prematura. E você sabe o que aconteceu: os republicanos saíram ao ataque, alegando que as novas regras imporiam custos enormes.

Não há motivo para levar essas reclamações a sério, ao menos em termos de substância. Os poluidores e seus amigos políticos apresentam um histórico de dar falso alarme. Repetidas vezes, eles insistiram que as empresas americanas --que eles costumam retratar como infinitamente inovadoras, capazes de superar qualquer obstáculo-- quebrariam se lhes fosse pedido que limitassem as emissões. Repetidas vezes, os custos reais foram bem menores do que previram. Na verdade, quase sempre abaixo das previsões da EPA.

Assim, é sempre a mesma velha história. Mas por que, exatamente, as coisas sempre ocorrem dessa forma? É claro, os poluidores defenderão seu direito de poluir, mas por que podem contar com o apoio republicano? Quando e por que o Partido Republicano se tornou o partido da poluição?

Nem sempre foi assim. A Lei do Ar Limpo de 1970, a base legal para as ações ambientais do governo Obama, foi aprovada no Senado com apoio bipartidário por 73 votos a 0, e foi sancionada por Richard Nixon. (Eu já ouvi veteranos da EPA descreverem os anos Nixon como uma era dourada.) Uma grande emenda à lei, que entre outras coisas possibilitou o sistema de limitação e comércio que limita a chuva ácida, foi sancionada em 1990 por George H.W. Bush.

Mas isso foi no passado. O Partido Republicano atual está colocando um teórico de conspiração, que considera a ciência do clima uma "farsa gigantesca", no comando do comitê ambiental do Senado. E esse não é um caso isolado. A poluição se transformou em uma questão partidária profundamente divisora.

E o motivo para a poluição ter se tornado um assunto partidário é pelos republicanos terem se deslocado mais para a direita. Há uma geração, o meio ambiente não era um assunto partidário: segundo o Centro Pew de Pesquisa, em 1992, a grande maioria em ambos os partidos era favorável a leis e regulações mais rígidas. De lá para cá, a posição dos democratas não mudou, mas o apoio dos republicanos à proteção ambiental entrou em colapso.

E o que explica essa mudança antiambiental?

Seria possível ficar tentado a simplesmente culpar o dinheiro na política, e não há dúvida de que uma enxurrada de dinheiro por parte dos poluidores alimenta o movimento antiambiental em todos os níveis. Mas isso não explica por que o dinheiro das indústrias mais danosas ao meio ambiente, que costumava fluir para ambos os partidos, agora vai esmagadoramente em uma única direção. Pegue, por exemplo, a mineração de carvão. No início dos anos 90, segundo o Centro para Política Responsável, o setor tinha preferência pelos republicanos por margem modesta, dando cerca de 40% de seu dinheiro aos democratas. Hoje, esse número é de apenas 5%. Os gastos políticos dos setores de gás e petróleo seguem uma trajetória semelhante. De novo, o que mudou?

Uma resposta poderia ser a ideologia. Os livros de economia não ensinam que esta é antiambiental, mas sim que a poluição deve ser limitada, apesar de uma forma que seja boa para o mercado sempre que possível. Mas o movimento conservador moderno insiste que o governo é sempre o problema, nunca a solução, o que cria a vontade de acreditar que os problemas ambientais são falsos e a política ambiental arruinará a economia.

Meu palpite, entretanto, é que ideologia é apenas parte da história –ou, mais precisamente, é um sintoma da causa por trás da divisão: o aumento da desigualdade.

A história básica da polarização política ao longo das últimas décadas é que, à medida que uma minoria rica se distanciou economicamente do restante do país, ela arrastou um grande partido consigo. É verdade que os democratas costumam se curvar aos interesses do 1% mais rico, mas os republicanos sempre se curvam. Qualquer política que beneficie os americanos de classe média e baixa à custa da elite –como a reforma da saúde, que garante cobertura de saúde a todos e paga por essa garantia em parte com impostos sobre as rendas mais altas– enfrentará a oposição amarga dos republicanos.

E a proteção ambiental é, em parte, um assunto de classe, apesar de não costumarmos pensar nisso desse modo. Todo mundo respira o mesmo ar, de modo que os benefícios do controle da poluição são mais ou menos divididos igualmente por toda a população. Mas a propriedade de ações de empresas de carvão, por exemplo, está concentrada em algumas poucas mãos ricas. Mesmo se os custos do controle da poluição forem repassados na forma de preços mais altos, os ricos são diferentes de você ou de mim. Eles gastam muito mais dinheiro e, portanto, arcam com uma parcela maior dos custos.

No caso do novo plano para ozônio, a análise da EPA sugere que, para o americano comum, os benefícios seriam mais que o dobro dos custos. Mas isso não necessariamente importa para o americano não comum que guia as prioridades de um partido. Em relação ao ozônio, assim como em quase tudo atualmente, trata-se da desigualdade.