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Recuperação da economia americana, finalmente?

09/12/2014 00h01

Na semana passada tivemos um relatório sobre emprego realmente bom --talvez o primeiro relatório realmente bom em muito tempo. A economia dos EUA ganhou bem mais de 300 mil empregos; os salários, que estiveram estagnados por um tempo excessivo, se recuperaram um pouco.

Outros indicadores, como o índice em que os trabalhadores estão deixando os empregos (um sinal de que esperam encontrar novos empregos), continuam melhorando. Ainda não estamos perto do pleno emprego, mas chegar lá não parece mais um sonho impossível.

E há algumas lições importantes a se tirar dessa boa notícia atrasada. Ela não justifica políticas que permitiram sete anos ou mais de rendas e empregos deprimidos. Mas mostra a mentira de alguns absurdos que escutamos sobre por que a economia ficou atrasada. Vamos falar primeiro sobre os motivos para não comemorar.

As coisas finalmente parecem melhores para os trabalhadores americanos, mas essa melhora vem depois de anos de sofrimento, com o desemprego em longo prazo, em particular, permanecendo em níveis não vistos desde os anos 1930.

Milhões de famílias perderam suas casas, suas poupanças ou ambas. Muitos jovens americanos se formaram para um mercado de trabalho que não queria suas capacidades, e jamais voltarão para as carreiras que deveriam ter tido.

E a longa queda não prejudicou apenas as famílias; causou imensos danos a nossas perspectivas em longo prazo. As estimativas do potencial da economia --o valor que ela pode produzir se e quando finalmente atingir o pleno emprego-- foram constantemente reduzidas nos últimos anos, e muitos pesquisadores hoje acreditam que a queda em si prejudicou o potencial futuro. Então houve sete anos terríveis, e nem uma série de bons relatórios de emprego não podem corrigir o dano. Por que foi tão ruim?

Você muitas vezes ouve afirmações, às vezes de gurus que deveriam saber melhor, de que ninguém previu uma recuperação arrastada, e que isso prova que a macroeconomia da corrente dominante está toda errada. A verdade é que muitos economistas, eu mesmo incluído, previram uma lenta recuperação desde o início. Por quê?

A resposta, em suma, é que há exceções e há outras exceções. Algumas exceções são deliberadamente criadas para esfriar uma economia superaquecida, inflacionária. Por exemplo, o Fed causou a recessão de 1981-82 com políticas de dinheiro justo que temporariamente fizeram as taxas de juros chegarem a quase 20%. E encerrar essa recessão foi fácil: quando o Fed decidiu que tínhamos sofrido o suficiente, ele amainou, as taxas de juros despencaram e o dia voltou a nascer na América.

Mas as recessões "pós-modernas", como as de 2001 e 2007-09, refletem estouros de bolhas, mais que dinheiro justo, e são difíceis de ser encerradas; mesmo que o Fed corte as taxas de juros a zero, poderá ser uma medida inútil, incapaz de um efeito muito positivo. Em consequência, você não espera ver recuperações em forma de V como a de 1982-84 --e certamente não vimos.

Isso não significa que estávamos destinados a viver uma queda de sete anos. Poderíamos ter tido uma recuperação muito mais rápida se o governo dos EUA tivesse aumentado o investimento público e colocado mais dinheiro nas mãos das famílias com probabilidade de gastá-lo. Mas o estímulo Obama foi muito pequeno e de curta duração --como muitos de nós advertiram antecipadamente que seria--, e desde 2010 o que vimos na verdade, graças à oposição republicana de terra-arrasada em todas as frentes, são cortes inéditos em gastos do governo, especialmente em investimentos, e no emprego do governo.

Está bem, nesta altura tenho certeza de que muitos leitores estão pensando que ouviram uma história muito diferente sobre o que deu errado-- a história conservadora que atribui a recuperação lenta à terrível, horrível, atitude negativa do governo Obama. O presidente, dizem-nos, assustou os empresários ao falar sobre "gatos gordos" em Wall Street e de modo geral olhando para eles de modo engraçado. O Obamacare também matou empregos, certo?

E é aí que entram em cena os novos números de empregos. Nesta altura temos pontos de dados suficientes para comparar a recuperação do emprego sob o presidente Barack Obama com a recuperação do emprego sob o ex-presidente George W. Bush, que também presidiu uma recessão pós-moderna, mas com certeza nunca insultou os gatos gordos.

E por qualquer medida que você possa escolher --mas especialmente se comparar os índices de geração de empregos no setor privado--, a recuperação de Obama foi mais forte e mais rápida. Ah, e esse ritmo se intensificou no último ano, quando a reforma da Saúde entrou plenamente em vigor.

Só para ser claro, não estou chamando a economia da era Obama de história de sucesso. Precisávamos de um crescimento do emprego mais rápido desta vez do que com Bush, porque a recessão foi mais profunda e o desemprego ficou alto demais por tempo demais. Mas agora podemos dizer com confiança que a fraqueza da recuperação não teve nada a ver com a inclinação antiempresas (falsamente) alegada de Obama. O que ela refletiu, sobretudo, foi o dano causado pela paralisia do governo --paralisia que, infelizmente, recompensou ricamente os próprios políticos que a causaram.