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Presidentes e a economia

A melhora da economia é certamente um fator no crescente índice de aprovação do presidente Barack Obama - Reprodução
A melhora da economia é certamente um fator no crescente índice de aprovação do presidente Barack Obama Imagem: Reprodução

Paul Krugman

06/01/2015 00h02

De repente, ao que parece, a economia americana está melhor. As coisas parecem mais positivas há algum tempo, mas a esta altura os sinais de avanço –ganhos em empregos, rápido crescimento do PIB, aumento da confiança– são inconfundíveis.

A melhora da economia é certamente um fator no crescente índice de aprovação do presidente Barack Obama. E há uma sensação palpável de pânico entre os republicanos, apesar da vitória deles nas eleições de novembro. Eles esperavam concorrer em 2016 contra um histórico de fracasso, mas o que farão se a economia estiver bem?

Bem, esse é um problema deles. O que eu quero perguntar é se algo disso faz sentido. Quanta influência o ocupante da Casa Branca tem sobre a economia? A resposta padrão entre os economistas, ao menos quando não estão servindo a interesses políticos, é: “não muito”. Mas será que desta vez é diferente?

Para entender o motivo para os economistas costumarem minimizar o papel econômico dos presidentes, vamos rever um episódio em grande parte transformado em mito na história econômica dos Estados Unidos: a recessão e recuperação nos anos 80.

Na direita, é claro, os anos 80 são lembrados como uma era de milagres realizados pelo abençoado Reagan, que cortou impostos, conjurou a mágica do mercado e liderou a nação em ganhos de empregos nunca vistos antes ou desde então. Na verdade, os 16 milhões de empregos que os Estados Unidos adicionaram durante os anos Reagan foram apenas ligeiramente mais do que os 14 milhões adicionados nos oito anos anteriores. E um presidente posterior –Bill alguma coisa– presidiu a criação de 22 milhões de empregos. Mas quem está contando?

De qualquer modo, qualquer análise séria do ciclo de negócios da era Reagan dá muito pouco peso ao presidente, enfatizando em seu lugar o papel do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que estabelece a política monetária e é, em grande parte, independente do processo político. No início dos anos 80, o Fed, sob a liderança de Paul Volcker, estava determinado em reduzir a inflação, mesmo a um alto preço; ele endureceu a política, elevando as taxas de juros às alturas, com as taxas hipotecárias acima de 18%. O que se seguiu foi uma severa recessão, que levou a taxa de desemprego a dois dígitos, mas também quebrou a espiral salário-preço.

Então o Fed decidiu que os Estados Unidos já tinham sofrido o bastante. Ele afrouxou as rédeas, fazendo as taxas de juros despencarem e o mercado imobiliário começar a decolar. E a economia se recuperou. Reagan recebeu o crédito político pela "manhã na América", mas Volcker foi na verdade o responsável tanto pela recessão quanto pelo boom.

O ponto é que normalmente é o Fed, e a não a Casa Branca, que manda na economia. Nós devemos aplicar a mesma regra aos anos Obama?

Não muito.

Por um lado, o Fed tem tido dificuldade em ganhar tração após a crise financeira de 2008, porque as consequências da imensa bolha imobiliária e hipotecária deixaram os gastos privados relativamente sem reposta às taxas de juros. Desta vez, a política monetária realmente precisava da ajuda de um aumento temporário nos gastos do governo, o que significava que o presidente poderia ter feito uma grande diferença. E fez, por algum tempo. Politicamente, o estímulo de Obama pode ter sido um fracasso, mas a maioria esmagadora dos economistas acredita que ele ajudou a atenuar a recessão.

De lá para cá, a política de terra arrasada da oposição republicana mais que reverteu esse esforço inicial. Na verdade, os gastos federais, corrigidos pela inflação e pelo crescimento populacional está menor agora do que quando Obama tomou posse. À mesma altura nos anos Reagan, eles eram 20% mais altos. Logo, basta para a política fiscal.

Há, entretanto, outro aspecto no qual Obama supostamente fez uma grande diferença. O Fed tem tido dificuldade para conseguir tração, mas ao menos fez um esforço para estimular a economia –e o fez apesar dos ataques ferozes dos conservadores, que o acusaram repetidas vezes de "depreciar o dólar" e abrir o caminho para a inflação descontrolada. Sem Obama para proteger sua independência, o Fed poderia ter sido pressionado a aumentar as taxas de juros, o que teria sido desastroso. Logo, o presidente ajudou indiretamente a economia ao ajudar a rechaçar a máfia da política monetária dura.

Por último, mas não menos importante, mesmo se você pensar que Obama merece pouco ou nenhum crédito pelas boas notícias econômicas, o fato é que seus oponentes passaram anos alegando que a atitude ruim dele –por ter sugerido de vez em quando que alguns banqueiros se comportaram mal– é de alguma forma responsável pela fraqueza da economia. Agora que ele está presidindo uma economia inesperadamente forte, eles não podem voltar atrás e afirmar sua irrelevância.

Assim, o presidente é responsável pela aceleração da recuperação? Não. Mas podemos dizer que estamos melhor do que estaríamos se o outro partido estivesse ocupando a Casa Branca? Sim. Aqueles que culpam Obama por todos nos nossos males econômicos agora parecem tratantes e tolos? Sim, parecem. E é porque são.